Apesar da atualização do referencial de redução das emissões de gases de efeito estufa brasileiras na COP26, de 43% para 50% até 2030, alguns analistas afirmam que é preciso mais. Natalie Unterstell é uma entre essas vozes.
Mestre pela Universidade de Harvard, com graduação na Fundação Getulio Vargas, em 2011, ela se tornou negociadora do Brasil na Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e, atualmente, dirige o Instituto Internacional de Políticas Públicas Talanoa.
Em 15 de outubro, coordenou o lançamento do estudo Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030, que consultou mais de 300 especialistas e lideranças de governos subnacionais, parlamentos, organizações da sociedade civil, comunidades, empresas, fundos de investimento e associações privadas.
O processo foi conduzido pelo Centro Clima da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), e recomenda dois cenários para a retomada do desenvolvimento: um de transição justa para a neutralidade climática, com 66% de emissões a menos do que em 2005, e outro com o fim do desmatamento e 82% de emissões a menos.
A adoção do primeiro, por exemplo, resultaria em aumento progressivo no produto interno bruto (PIB) e na balança comercial e seria capaz abrir 150 mil postos de trabalho ainda nesta década, aponta a metodologia. No entanto, para Natalie, não basta só que os governos coloquem suas propostas sobre mesa:
— A sociedade tem que querer. Nos propusemos a criar uma referência de como fazer essa redução, sem sacrificar a economia e o meio ambiente.
Entre os diagnósticos, desde 2010 as emissões anuais de gases do efeito estufa no Brasil aumentam, em média, 0,041 mil gigatoneladas (Gt) ao ano. Em 2019, para se ter uma ideia, foram 2,17 Gt de emissões, o maior patamar em mais de 10 anos. Pelos cálculos do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), a taxa de carbonização da economia é reflexo do desmatamento e da promoção de combustíveis fósseis, somadas à ausência de políticas para a matriz hidrelétrica.
Algumas dessas ações estão no alvo do governo do Rio Grande do Sul. O secretário de Meio Ambiente e Infraestrutura, Luiz Henrique Viana, destaca a revisão do código ambiental gaúcho e os novos licenciamentos, especialmente os que envolvem a matriz energética.
Ele lembra que, atualmente, já são 80 parques eólicos no Rio Grande do Sul com muito potencial para criar empregos e renda. É o que faz com que 21% da capacidade instalada e 17% da energia produzida no Estado sejam oriundas de fontes limpas. Além disso, 80% da capacidade e 92% da energia gaúcha proveem de origens renováveis, com ampliação nas instalações fotovoltaicas, que já respondem por 1,83 mil megawatts (MW) em operação.
— Significa preocupação com o meio ambiente, sustentabilidade e ao mesmo tempo oferecer às empresas possibilidades de investimento — traduz Viana.
Projeto Bússola
Esta reportagem integra a série que o Grupo RBS preparou para a retomada econômica com iniciativa do setor produtivo. Quatro temas fundamentais foram mapeados e serão aprofundados pelo Projeto Bússola, que tem patrocínio do Sebrae: capacitação de profissionais, distribuição e logística, sustentabilidade e novas regras sanitárias. A série será veiculada em GZH, Zero Hora, Rádio Gaúcha, no "Gaúcha +", e RBS TV, no "RBS Notícias".