Não foi o resultado sonhado. Um dos grandes objetivos da 26ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP26) era limitar o aquecimento global a 1,5ºC. Se "valer o escrito", ou seja, apenas os compromissos assumidos no acordo, não vai ser possível. A temperatura média tende a subir 2,4°C e agravar o quadro de tempestades severas.
Presidente da COP26, Alok Sharma afirmou, no entanto, que o limite de 1,5ºC ainda é "alcançável", não sem admitir que "seu pulso é fraco e só vai sobreviver se mantivermos nossas promessas e transformarmos compromissos em ação rápida".
O maior problema esteve no coração do debate, as chamadas contribuições determinadas nacionalmente (NDCs na sigla em inglês), ou seja, os compromissos que cada país assume para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Só um dos chamados "grandes emissores", a Índia, apresentou novas metas, e o assunto ficou para o próximo ano, na COP27, no Egito. Como a coluna havia citado o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, dizendo que a COP26 era sobre "carvão, carros, dinheiro e árvores", agora tenta resumir abaixo como ficou cada um.
Carvão: foi uma das maiores batalhas para alcançar um acordo no sábado, um dia depois da data prevista. Para limitar o aquecimento a 1,5ºC, seria preciso fechar ao menos 40% das 8,5 mil usinas de geração de eletricidade abastecidas a carvão existentes no mundo, e não construir mais nenhuma. Na batalha semântica, venceu a expressão equivalente a "reduzir" (phase down) em deve de "eliminar" (phase out).
Carros: uma das "conquistas" é mais simbólica do que prática, mas tem potencial para deixar o Brasil em saia ambiental ainda mais justa. Técnicos festejaram a inclusão, pela primeira vez na história, da expressão "combustíveis fósseis" relacionada às mudanças climáticas. Parece bobagem, mas basta pensar no lobby dos países produtores para entender a importância. Só que isso ocorre quando o Brasil estuda um fundo para compensar aumentos de ... combustíveis fósseis, como diesel e gás de cozinha. O acordo prega a necessidade de reduzir subsídios, enquanto aqui surgem novos.
Dinheiro: na briga para garantir US$ 100 bilhões anuais doados por países ricos para os mais pobres – no ano passado, o valor ficou em US$ 80 bilhões –, o compromisso ficou mais flexível: US$ 500 bilhões até 2025. Uma das ambições dos países pobres não foi alcançada, a de garantir que metade dos recursos fosse destinada a medidas de adaptação. A maior parte financia corte de emissões, como projetos de energia renovável, que tem financiamento de mercado, já que dá lucro. Medidas para enfrentar tempestades e outras consequências da mudança climática precisavam de mais recursos. O acordo permite duplicar a proporção atual, mas não chega nem perto da metade.
Árvores: cerca de cem países, Brasil incluído, assinaram um acordo para zerar o desmatamento até 2030. O Acordo da Floresta foi acertado ainda no dia 2, antes do acordo final, e prevê US$ 19,2 bilhões em recursos públicos e privados para preservar florestas, combater incêndios, reflorestar e proteger territórios indígenas. Tudo bem bonito no papel, vamos ver se funciona no mundo real.
Ah, e como ficou a imagem de pária do Brasil? O fato de ter sido representado, na abertura, por Txai Suruí (foto lá no alto), líder do Movimento da Juventude Indígena em Rondônia, ajudou. Ter assinado o Acordo da Floresta, também. Mas quando o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, afirmou – em plena COP26 – "não ter acompanhado" os dados que apontaram recorde de desmatamento na Amazônia em outubro, a situação "expectativa X realidade" se impôs. Agora, cabe ao país mostrar que é capaz de cumprir acordos internacionais. E a seus cidadãos, cobrar seu governo para que isso ocorra.