A definição já tem um mês, mas no dia em que foi aberta oficialmente 26ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP26), é bom repetir para que fique mais claro.
Como disse o anfitrião do encontro, o primeiro-ministro Boris Johnnson, em um dos inúmeros encontros preparativos à reunião, as questões a resolver até 12 de novembro são carvão, carros, dinheiro e árvores.
A frase inteira de Johnson, que vai ajudar a determinar se de fato os líderes atuais não fracassaram, é essa:
– Precisamos que todos tragam a sua ambição e ação, para que possamos limitar a elevação da temperatura e colocar o mundo no caminho certo para levar as emissões líquidas (de carbono) a zero. Isso significa compromissos ousados sobre o carvão, os carros, o dinheiro e as árvores: para impulsionar a nossa revolução verde industrial com energia limpa e carros elétricos, fechar a lacuna no financiamento climático prometido às nações em desenvolvimento e deter a desflorestamento devastador.
O carvão é crucial, em especial na Europa e na China, onde é base para gerar energia elétrica. A queima desse combustível é responsável por 46% das emissões de dióxido de carbono no mundo. A transição para fontes mais limpas é complexa e já vem sendo apontada como uma das responsáveis pela crise energética que afeta vários países. Nessa negociação, os "vilões" são China, Índia e Rússia, que topam reduzir emissões, mas não aceitam ser proibidas de usar carvão, e Austrália, um dos maiores exportadores do minério.
Os carros abastecidos com derivados de petróleo respondem por cerca de 25% das emissões globais. Reino Unido, União Europeia e China prometem parar de fabricar esse tipo de veículos, a combustão, entre 2035 e 2036. Estados Unidos e Índia não se comprometem com datas. Há uma intensa discussão sobre o quanto as baterias para carros elétricos têm produção sustentável, o que dificulta ainda mais a conversa.
O dinheiro tem uma cifra específica: US$ 100 bilhões anuais injetados por países ricos para ajudar os mais pobres, que sofrem mais com mudanças climáticas. No ano passado, o valor ficou em US$ 80 bilhões, e se estima que a meta só será atingida em 2023. Especialistas afirmam que a conta está na casa dos trilhões de dólares, não de bilhões. Outra questão crucial envolve a reestruturação do mercado de créditos de carbono, especialmente para países como o Brasil, que teriam muito a lucrar com essas negociações.
As árvores são os filtros naturais do dióxido de carbono. Isso significa que, quanto mais se preservar as florestas, mais fácil se torna a meta de cortar emissões a ponto de frear a elevação da temperatura média em 1,5 grau centígrado. É o tema que mais afeta o Brasil, deitado em uma esplêndida floresta, mas não eternamente. A promessa de zerar o desmatamento no Brasil até 2030 feita por Jair Bolsonaro durante a Cúpula do Clima , foi bem recebida, mas os resultados apresentados até agora desafinaram do tom. Por isso, o novo "compromisso" anunciado nesta segunda-feira (1º) foi recebido com certa frieza. Ainda há a proteção dos povos indígenas, considerada crucial pelos líderes mundiais e irrelevante – se não empecilho – pelo governo brasileiro. Líder do Movimento da Juventude Indígena em Rondônia, a jovem Txai Suruí, foi convidada a falar na abertura da COP-26 logo depois do pronunciamento do anfitrião, Boris Johnson.
Não há desafio simples na agenda. Os líderes que estão em Glasgow podem até fracassar, mas poderão dizer à posteridade que, ao menos, tentaram. No dia em que começava a ser definido o futuro da vida no planeta Terra, não estavam flanando pela Itália.