O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
O leilão da Companhia de Gás do Rio Grande do Sul (Sulgás) acontece na próxima semana. Com valor mínimo de R$ 927,8 milhões, fixado em edital, a participação de 51% do governo gaúcho na distribuidora de gás será leiloada em 22 de outubro, na B3 – a bolsa brasileira.
As propostas serão entregues até 18 de outubro. Dois grandes nomes despontam nas especulações de bastidores do mercado. Tratam-se da Ultrapar, grupo ao qual pertence a Ipiranga, e também a Compass, que, em julho, comprou fatia de 51% da Petrobrás na Gaspetro. Esta, por sua vez, dividia os 49% restantes da estatal com a japonesa Mitsui.
A empresa, criada no ano passado é um dos braços do Grupo Consan e dona da Comgás, a maior distribuidora de gás do país com mais de 19 mil km de rede instalada e 2,1 milhões de clientes em 94 municípios de São Paulo. Deve, segundo os analistas, entrar forte no leilão do dia 22.
Mas, a pergunta não é “quem” estará no comando da Sulgás, e sim “o que” fará o grupo privado com a concessão da distribuição de gás natural no RS?
O sócio da Bateleur, André Trein, comenta que, apesar da venda diária de 2 milhões de metros cúbicos de gás natural, a rede de distribuição da Sulgás é reduzida e os quase 1,3 mil km de tubulação estão concentrados na Região Metropolitana de Porto Alegre e na Serra Gaúcha.
Isso faz com que as demais regiões sejam atendidas de outras maneiras. É aí que entra o GNC (Gás Natural Comprimido), transportado por caminhões e instalado em postos e indústrias, onde não há tubulação, mas existe muita demanda nos processos produtivos locais.
A privatização precisa acelerar a nova malha. Em 2020, por exemplo, foram 76,7 km de novas tubulações. Isso elevou os 1.213 km existentes para 1.289 km. O aumento anual, de 6,2% nos gasodutos, fica dentro da média dos últimos 10 anos, mas com um detalhe: o foco segue nas mesmas duas regiões.
Por isso, a expectativa é que primeira consequência – seja qual for o novo gestor privado – imprima ritmo na expansão da rede e, sobretudo, mantenha o olhar em outras regiões economicamente importantes, hoje, atendidas somente por GNC ou combustível alternativo. Assim, com ganho de escala e maior volume, pode-se até sonhar com diluição de custos e menores repasses ao consumidor final.