O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A Petrobras anunciou, na quinta-feira, após o fechamento do mercado, a venda da totalidade de sua participação (51%) na Gaspetro para a Compass – um dos braços do Grupo Consan no setor de gás e energia. Os 49% restantes pertencem a japonesa Mitsui.
A transação, avaliada em R$ 2,03 bilhões, ainda está sujeita à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), mas tem relação direta com as pretensões do governo do Estado para a desestatização da Sulgás, empresa pública responsável pela comercialização e distribuição de gás natural canalizado no Rio Grande do Sul.
Isso porque a Gaspetro é detentora de uma fatia de 49% estatal gaúcha. Nas entrelinhas, pode-se dizer que "meia privatização" já aconteceu. A outra metade ocorrerá no segundo semestre deste ano por ocasião da oferta dos 51% relativos à participação societária majoritária do Estado na companhia.
Como a coluna já havia antecipado, em fevereiro, o fato curioso é que quando o controle da Sulgás for negociado, a distribuidora já terá uma nova sócia privada, agora, conhecida por todos.
Trata-se da Compass, empresa criada no ano passado e que, atualmente, é dona da Comgás, a maior distribuidora de gás do país com mais de 19 mil km de rede instalada e 2,1 milhões de clientes em 94 municípios do estado de São Paulo.
Já o acesso da Compass na Sulgás será via Gaspetro, uma holding com participação em 19 companhias distribuidoras de gás natural, localizadas em todas as regiões do Brasil, entre elas, a própria Sulgás. Suas redes de distribuição somam aproximadamente 10 mil km e atendem a pelo menos 500 mil clientes.
O Grupo Cosan, ao qual pertence a Compass, além do segmento de gás e energia, atua na produção de açúcar, etanol, bioenergia, distribuição e comercialização de combustíveis, por intermédio da Raízen (joint venture entre a Cosan e a Shell). Também está no segmento de lubrificantes, com a Moove, e de logística, com a Rumo.
A movimentação, aos poucos, dá forma ao desenho da nova Sulgás, cujo atrativo ao mercado é a venda diária de cerca de 2 milhões de metros cúbicos de gás natural, ou o equivalente a 5% do total disponível no Brasil. O desafio: superar os limites do trajeto do gasoduto Brasil-Bolívia, que chega a Canoas com baixa capacidade.