Havia expectativa de que a disputa pela Sulgás não fosse muito acirrada, menos pela situação da empresa e mais pelas condições de mercado, mas o resultado foi que o Estado vendeu a distribuidora de gás pelo preço mínimo, de R$ 927.799.896,55.
Só a Compass, do Grupo Cosan (Raízen e Shell) fez oferta. Esperava-se que a Ultrapar, dona dos postos Ipiranga, participasse, mas isso não aconteceu.
O que foi vendido foi a fatia de 51% que o Rio Grande do Sul tinha na distribuidora de gás natural. Os outros 49% são da Gaspetro, associação entre a Petrobras (51%) e a japonesa Mitsui (49%). Então, foi uma venda previsível, uma vez que a Compass já tem, em tese, metade da outra metade da distribuidora gaúcha.
Um dos complicadores da privatização da Sulás era exatamente sua composição acionária e um negócio que ocorreu de forma complementar, exatamente com a Compass. Essa empresa havia comprado a fatia da Petrobras na Gaspetro em julho, por R$ 2,03 bilhões. No entanto, entidades do setor de energia pediram ao Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) que não autorize a venda, por representar concentração de mercado. O Cade autorizou, no mês passado, que grandes consumidores de energia fossem incluídos como parte interessada no processo.
O caso adicionou incerteza ao segmento, porque qualquer uma das candidatas mais fortes à compra da Sulgás poderia enfrentar problema semelhante. A compra da distribuidora gaúcha acentua essa concentração, então é possível que o Cade examine os dois processos de forma conjunta. Pode haver polêmica à frente. Ao comentar a nova aquisição, o CEO da Compass, Nelson Gomes, admitiu "controvérsias" na privatização do segmento, mas assegurou que o futuro da Sulgás é de crescimento.
Fabio Abrahão, diretor de concessões e privatizações do BNDES, atribuiu a falta de outros interessados ao atual estágio de maturação do mercado de gás. Afirmou que o segmento de rodovias tem agentes desenvolvidos e marco legal consolidado, o de saneamento tem marco legal novo e novos participantes, mas a venda da Sulgás foi a primeira em 20 anos, e as regras ainda estão sendo consolidadas.
Foi a terceira estatal gaúcha a ser privatizada neste ano, depois da CEEE-D, arrematada pela Equatorial, e da a CEEE-T, que teve controle transferido à CPFL na semana passada. Na audiência pública de privatização da Sulgás, o presidente da empresa, Carlos Colón, havia informado o lucro médio nos últimos anos: entre R$ 70 milhões e R$ 80 milhões.