Como tudo indicava na véspera, a assinatura de contrato que marca a transferência de controle da CEEE-D para a Equatorial Energia foi apenas um ato formal, sem anúncio de novo comando da empresa de distribuição.
Um dos motivos é o fato de que a nova controladora só assume de fato a gestão da concessionária de energia gaúcha na próxima quarta-feira, dia 14, como confirmou o CEO da Equatorial, Augusto Miranda.
O tamanho do desafio de transformar a CEEE-D em uma empresa eficiente e lucrativa foi confirmado pelo tom de desabafo nos discursos do presidente do Grupo CEEE, Marco Soligo, e até do governador Eduardo Leite. No final da solenidade, Soligo deu um abraço tão impetuoso que desequilibrou Leite, que havia confessado, momentos antes:
– Foi tudo tão difícil que, quando eu estava vindo para cá, perguntei: está certo mesmo, a gente vai assinar?
Miranda confirmou que existe um plano para os primeiros cem dias, que a Equatorial pretende "burilar" depois de ouvir consumidores e reiterou que os investimentos serão alinhados ao planejamento estratégico do Estado para "colocar energia onde precisa". Também fez questão de dizer que o modelo de gestão da Equatorial é conhecido nacionalmente por "alinhar com os colaboradores":
– É uma empresa em que, a partir de um nível (hierárquico) distribui ações para alinhar com pessoas que pensam como donos do negócio. Aqui também vamos fazer a virada tão necessária em qualidade e confiabilidade do serviço. Isso só é possível se tiver pessoas envolvidas. Não é só capital, só dinheiro. Se sonharmos junto com os colaboradores e tivemos boa receptividade da sociedade, faremos as mudanças necessárias de forma mais produtiva e rápida, respeitando a cultura local.
Como a troca de comando, por enquanto simbólica, voltou a provocar inquietações, a coluna fez um resumo do que a Equatorial já sinalizou sobre sua forma de atuação:
Comando: nas outras concessionárias que a Equatorial assumiu, a direção foi confiada a técnicos com grande conhecimento no setor elétrico, e sempre que possível com alguma ligação com a cultura local. Para citar um caso, Raimundo Nonato Castro assumiu a Cepisa, do Piauí, e foi "roubado" pela Light no ano passado. O executivo foi descrito como "monstro sagrado" no setor.
Funcionários: há um acordo que só permite demissões seis meses depois da mudança de controle (a partir de 14 de janeiro, portanto). Mas a Equatorial já confirmou que pretende fazer um Programa de Demissões Voluntárias (PDV), ainda sem definir meta de desligamentos. Um dos objetivos é baixar a média salarial da CEEE-D, considerada alta para o setor. Despesas com pessoal, material e terceiros compõem o chamado PMSO, conjunto de gastos que, se estivem muito elevado em relação aos demais, reduz o reajuste de tarifa que a empresa pode aplicar, pelas regras da Aneel.
Meritocracia: embora pretenda baixar a média salarial da distribuidora gaúcha, a Equatorial atua com remuneração variável, baseada em metas, tanto para a equipe própria quanto para os terceirizados. Também tem "política meritocrática", que distribui ações da própria companhia para os executivos que se destacam. É uma política de retenção.
Tarifa: todas as distribuidoras de energia buscam a maior tarifa possível. A regra geral é que, quanto maior o investimento, maior o percentual de aumento, mas a Aneel estabelece um limite, por isso Miranda fala em "investimento prudente", que é o remunerado. O próximo reajuste, em novembro, ainda não deve ter "efeito Equatorial", mas é possível que, nos seguintes, o reajuste para os usuários fique acima da média, pela necessidade de investimentos na área de concessão.
Investimento: No governo do Estado, há expectativa de um volume de R$ 1,5 bilhão, mas a Equatorial tem evitado confirmar valores. O CEO tem dito que, nas outras concessões, o aporte tem sido "muito acima" do plano inicial.