É cada vez mais provável que o manifesto A Praça é dos Três Poderes, que rendeu um dos momentos mais publicamente tensos na elite econômica do país, nunca seja oficialmente publicado.
Mas já é um dos textos mais conhecidos no âmbito econômico — ainda que seja por recitar apenas o óbvio — e provocou réplicas, como um terremoto, mais desestabilizadoras (leia a última versão antes do adiamento abaixo).
Como o adiamento da divulgação, decidido unilateralmente pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), chegou a provocar discussões sobre coragem e covardia, a Federação Nacional dos Bancos (Febraban), emitiu nota pedindo "equilíbrio e serenidade, elementos basilares de uma democracia sólida e vigorosa" (leia íntegra abaixo). Em nota, na manhã desta sexta-feira (3), o Banco do Brasil já confirmou sua permanência na entidade (também com íntegra disponível abaixo).
Assinado pelo presidente do BB, Fausto Ribeiro, o comunicado afirma que foi alcançado "um entendimento que é fruto de discussões respeitosas entre as partes e que não inibe a livre expressão de qualquer membro da Federação (a entidade). O comunicado da Febraban, por um lado, reafirmou sua convicção pelo conteúdo pacífico e equilibrado do manifesto e, por outro, acena ao BB e à CEF quando registra a desvinculação do movimento liderado pela Fiesp, contribuindo para a solução do impasse" .
Além da nota da Febraban, que não faz qualquer crítica direta ao governo Bolsonaro, mas menciona "democracia sólida e vigorosa", surgiu na quinta-feira (2) o Novo Manifesto dos Mineiros, com 300 adesões.
O documento afirma que "a ruptura pelas armas, pela confrontação física nas ruas, é sinônimo de anarquia, que é antônimo de tudo quanto possa compreender uma caminhada serena, cidadã e construtiva". Foi uma reação a uma nota da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), que atacava o Supremo Tribunal Federal (STF).
O resultado líquido da guerra de notas é um desgaste adicional de Jair Bolsonaro na elite econômica, cuja evolução dependerá muito do que ocorrer nas manifestações de Sete de Setembro. E que também está muito relacionado, é preciso observar, com os rumos da reforma tributária. Mas manifestações muito críticas ao presidente, que até há pouco eram exceção, tornaram-se mais frequentes e com menos uso de eufemismos. O presidente que prometia soluções tornou-se o problema.
A íntegra na nota da Febraban
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) reafirma o apoio emprestado ao manifesto “A Praça é dos Três Poderes”, cuja adesão se deu, desde o início, dentro de um contexto plurifederativo de entidades representativas do setor produtivo e cuja única finalidade é defender a harmonia do ambiente institucional no país.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) assumiu a coordenação do processo de coleta de assinaturas e se responsabilizou pela publicação, conforme e-mail dirigido a mais de 200 entidades no último dia 27 de agosto.
A Febraban considera que o conteúdo do manifesto, aprovado por sua governança própria, foi amplamente divulgado pela mídia do país, cumprindo sua finalidade. A Federação manifesta respeito pela opção do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, que se posicionaram contrariamente à assinatura do manifesto.
Diante disso, a Febraban avalia que, no seu âmbito, o assunto está encerrado e com isso não ficará mais vinculada às decisões da Fiesp, que, sem consultar as demais entidades, resolveu adiar sem data a publicação do manifesto.
A Febraban confirma seu apoio ao conteúdo do texto que aprovou, já de amplo conhecimento público, cumprindo assim o seu papel ao se juntar aos demais setores produtivos do Brasil num pedido de equilíbrio e serenidade, elementos basilares de uma democracia sólida e vigorosa.
A íntegra da nota do Banco do Brasil
Após negociações respeitosas entre os membros da Febraban ocorridas nesta semana, e reconhecendo o esforço empreendido por todos na busca pelo diálogo e por soluções mediadas, como é tradição na Febraban, o Banco do Brasil esclarece que não tem intenção de se desassociar da Federação e reafirma seu respeito pelos pares e sua admiração pela importante história construída pela Federação em seus mais de 50 anos de existência.
“Chegamos a um entendimento que é fruto de discussões respeitosas entre as partes e que não inibe a livre expressão de qualquer membro da Federação. O comunicado da Febraban, por um lado, reafirmou sua convicção pelo conteúdo pacífico e equilibrado do manifesto e, por outro, acena ao BB e à CEF quando registra a desvinculação do movimento liderado pela FIESP, contribuindo para a solução do impasse”, disse Fausto Ribeiro, presidente do BB.
O BB também acredita que o episódio poderá, ao final, contribuir para reforçar mecanismos internos na Federação que favoreçam o diálogo e reforcem o papel da Febraban como importante agente de desenvolvimento do País.
Como era a última versão o documento do manifesto antes do adiamento
A PRAÇA É DOS TRÊS PODERES
"A Praça dos Três Poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos poderes.
Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.
Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe.
As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população.
Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira."