O manifesto A Praça é dos Três Poderes, que tinha 200 adesões de entidades do setor produtivo antes de ser adiado, corre o risco de se tornar uma ação "viúva Porcina", que foi sem nunca ter sido.
Já apelidado de "manifesto do PIB", pelo peso econômico dos signatários, o documento está sob ameaça de desaparição, mas conforme fontes que haviam dado apoio ao texto, já provocou efeitos, ao explicitar a insatisfação com as ameaças golpistas de Jair Bolsonaro.
Conforme a coluna apurou, o adiamento foi uma decisão unilateral do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Ao contrário da versão dada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o texto havia sido elaborado na Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e, em seguida, provocado uma crise interna na entidade a respeito dos termos.
Foi neste ponto que a houve o acionamento da Fiesp, conhecida pelo apoio ao presidente, que tornou ainda mais suave o texto já bastante moderado (leia abaixo a versão mais recente que existia antes do adiamento). Durante o final de semana, os esforços do governo para transformar o manifesto em "viúva Porcina" foram acentuados e chegaram ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A especulação envolve um suposto acordo em torno da votação das mudanças no Imposto de Renda, que enfrenta forte rejeição no setor produtivo, mas é tratada apenas como uma das possibilidades, baseada no envolvimento de Lira, que teria poder para engavetar o projeto.
Para outros signatários, sua publicação depois do Sete de Setembro, além de improvável, seria tardia. A preocupação nasceu exatamente das convocações de manifestações contra o Supremo Tribunal Federal (STF) na data da Independência. Mas conforme essa versão, mesmo que não seja jamais publicado e divulgado oficialmente, o documento já "provocou impacto", ao explicitar a insatisfação de boa parte do PIB com a condução do governo Bolsonaro.
Como era a última versão do manifesto antes da suspensão
A PRAÇA É DOS TRÊS PODERES
"A Praça dos Três Poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos poderes.
Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.
Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe.
As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população.
Mais do que nunca, o momento exige do Legislativo, do Executivo e do Judiciário aproximação e cooperação. Que cada um atue com responsabilidade nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna. Este é o anseio da Nação brasileira."