Paulo Guedes, ministro da Economia, tem tendência ao sincericídio. Já o praticou chamando servidores federais de "parasitas" e reclamando que domésticas viajavam à Disney —movimento substituído hoje pelo turismo de vacina de camadas mais abastadas.
Em entrevista concedida à Folha de S.Paulo no final de semana, Guedes fez uma espécie de "habeas confissão":
— Jogamos na defesa nos primeiros três anos, controlando despesas. Agora vem a eleição? Nós vamos para o ataque.
Para não deixar dúvida sobre o que significa "ataque", detalhou, sobre a atuação de sua pasta nos próximos meses:
— Vai ter Bolsa Família melhorado, BIP (Bônus de Inclusão Produtiva), o BIQ (Bônus de Incentivo à Qualificação), vai ter uma porção de coisa boa para vocês baterem palma. Tudo certinho, feito com seriedade, sem furar teto, sem confusão.
Foi tão desconcertante que "uma fonte do ministério da Economia" avisou que a fala de Guedes não significa "abrir a porteira dos gastos". Algo como as tentativas do vice-presidente Hamilton Mourão de emoldurar frases do Jair Bolsonaro com aspecto de normalidade.
Que governos tendem a ser mais "generosos" em períodos pré-eleitorais, especialmente quando há possibilidade de reeleição, não é novidade. Mas um anúncio prévio como o feito por Guedes é bastante raro, apenas para evitar o absoluto "inaudito". E vem logo depois que o governo Bolsonaro criou a famosa portaria do "teto duplex", que permite aumentos salariais ao presidente Jair Bolsonaro e a vários ministros.
A partir do mês que vem, o teto de R$ 39.293,32, poderá ser solene e legalmente ignorado, o que representará ganhos de até 69% para servidores de alto escalão, com pagamentos mensais que podem ultrapassar R$ 66 mil. Conforme a Associação Contas Aberta, o gasto anual será de R$ 66 milhões ao ano, o que poderia financiar a instalação de 110 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), segundo a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
Outra promessa eleitoral de Guedes é "devolver as estatais ao povo brasileiro". Pelo discurso, parece ter acatado a proposta do Manifesto Convergência Brasil, apresentada no ano passado, que previa a transferência para programas sociais de recursos obtidos com privatização e com a reforma administrativa. Na época, o gaúcho Elvaristo do Amaral havia detalhado a ideia à coluna, que incluía destinação ao então chamado Renda Cidadã.
— Cada estatal vendida dá ganho de capital para o povo. E se não vender? Pega um pedaço dos dividendos e coloca para eles. Cria um fundo de distribuição de riqueza, capitalismo popular. Isso está formulado e pronto — avisou Guedes.
O Brasil precisa mesmo, e com urgência, rever a possibilidade da reeleição.