A coluna mirou no que viu (e, confessa, provou) e acertou no que não viu. Intrigada com a oferta crescente de pinsas romanas em supermercados de Porto Alegre, "investigou" a procedência e percebeu que nem todos os caminhos levam a Roma: alguns param em Sarandi, norte do Estado.
Ao perguntar como surgiu a produção desse prato considerado um antepassado das pizzas que remontaria a Roma Antiga, descobriu uma história que inclui "fuga" para a Itália, duas "quase quebras", uma viagem repentina à República Tcheca e uma receita secreta.
A história do Pastifício Rosin, de Sarandi, que vende entre 3 mil e 4 mil pinsas ao mês, começa literalmente no século passado. Em 1992, Cesar Rosin foi para a Itália em busca de oportunidades. Tinha uma prima na cidade de Follina, perto de Treviso, e foi tentar a sorte.
— Fui para trabalhar, buscar a vida lá fora. Sempre fiz um pouco de tudo, não tenho estudo. Como brasileiro, lá, pega o pior, trabalhava em uma fábrica de móveis de dia, e em um pizzeria de noite, das 19h30min até a hora de fechar. Entrei como lavador de panelas e cortador de tempero, mas o patrão viu que eu tinha jeito e, um dia, faltou um secondino (uma espécie de ajudante). Tinha ideia de ficar só cinco anos, acabei ficando 11 anos — conta o empreendedor.
Nesse período, tinha até comprado apartamento próprio, que teve de vender quando percebeu que, se ficasse mais um pouco, a filha iria arrumar namorado, casar, e não voltaria nunca mais. Retornou em 2004, depois que o atentado às Torres Gêmeas gerou uma crise e rareou as oportunidades a estrangeiros na Itália. Como a dificuldade bateu também no Brasil, enfrentou dificuldades e esteve a ponto de voltar, confessa:
— Estava quebrado, mas o sogro ajudou, emprestou dinheiro, uma, duas vezes. Aí, o negócio começou andar. Consegui entrar com o primeiro produto na rede Zaffari em 2005, era um zaccottini, uma massinha recheada patenteada por nós. Trabalhamos oito meses, mas eu não tinha perna para abastecer, me retirei depois de honrar meus compromissos.
Em 2017, Rosin recebeu um convite do ex-patrão da Itália, que tinha ido para a República Tcheca, estava lançando um produto e oferecia um curso em outubro. Nem piscou, diz:
— Peguei um avião e fui. Já tinha na cabeça tudo o que ia fazer. Trouxe, registrei a marca e comecei a fazer. A base é uma mistura de farinhas, de trigo tenero, trigo duro, soja e arroz. Passei oito meses trabalhando até chegar ao resultado positivo. Mas a proporção é secreta: só eu e minha filha sabemos.
Quando ficou pronta, levou outra vez à rede Zaffari. Esperou cerca de cinco meses pelo diagnóstico, relata:
— Não é fácil, eles são muito exigentes, conhecem gastronomia. Um dia veio a resposta de que o pedido teve êxito. Começamos nos Bourbons e foi indo, a cada mês aumenta a venda. E vamos lançar uma linha premium. Já achei um fornecedor de funghi e de abobrinha italiana.
Rosin falou com a coluna na segunda-feira (10), dia em que não abre a trattoria, que funciona na frente da fábrica, então tinha tempo para conversar. Diz que o restaurante com 60 lugares é seu hobby. Tem ajuda, mas quem cuida do preparo é ele mesmo. Contou que apenas havia terminado de quebrar três baldes de ovos para deixar o trabalho encaminhado para a manhã seguinte. A pinsa feita naquele dia só seria assada na quarta-feira (12) para garantir a fermentação.
— Sou mais o peão aqui. Minha esposa é chefe de produção, minha filha estuda engenharia química e cuida das finanças. Sou o curinga, se falta um, entro para fatiar e ralar queijo. fatiar lombo, calabresa, o que tiver — descreve.
A coluna quis saber sobre o faturamento da Pastifício Rosin, e o empreendedor respondeu que a filha cuida dos números, mas disse que cresce a uma média de 20% a 25% ao ano. Como o capricho na embalagem chama atenção, a coluna quis saber como havia sido elaborada, e descobriu mais uma história cheia de detalhes: Rosin começou a vender pinsas porta a porta na praia e, assim, conquistou o paladar de Eunice Tramontina, esposa de Clovis Tramontina. Em uma conversa, a filha Elisa, que tem estúdio de design com os sócios Gustavo Giorgi e Marina Metz, comentou que a embalagem poderia ser melhorada e ofereceu seus serviços. É a força da economia local, mesmo globalizada.