O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta falava à CPI da Covid há mais de cinco horas, e já haviam surgido perguntas sobre a atuação do ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas foi ao responder à senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) que o depoente soltou o verbo e abriu caminho para a convocação:
— Ele é desonesto intelectualmente, um homem pequeno para estar onde está. Só dizia: ‘já mandei o dinheiro, agora se vira lá, vamos tocar a economia. Talvez tenha sido uma das vozes que tenham influenciado o presidente.
Mandetta sugeriu que Guedes estaria na origem da posição de Jair Bolsonaro de dar mais atenção ao impacto econômico da pandemia do que a ações que impedissem que a doença se espalhasse.
O contra-ataque veio poucas horas depois que Guedes afirmara, em audiência pública na Câmara dos Deputados, que o governo havia liberado R$ 5 bilhões para a Saúde combater o novo coronavírus "já nas primeiras semanas da pandemia", em março de 2020. Mandetta mencionou a declaração de Guedes lamentando que o ex-colega não tenha se lembrado que, nessa época "nem havia vacina sendo comercializada no mundo".
Mandetta fez questão de afirmar que o comportamento de Guedes contrastava com o do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que perguntava, contribuía com informações, discutia o impacto na saúde e na economia. Nas primeiras semanas da pandemia, Campos Neto teve mais protagonismo do que Guedes.
— Esse ajudou muito, foi extremamente atencioso com impacto na economia e impacto nas coisas públicas. O da Economia não ajudou em nada. Só falava em tocar a economia.
Antes da abertura da CPI da Covid, havia intenção de ouvir Guedes, mas os senadores foram demovidos da ideia para não comprometer outro segmento do governo. Com a exposição do ministro da Economia, porém, a corrente que pressionava pela convocação ganhou força e o requerimento será feito pelo vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A maioria dos 11 integrantes da CPI tem de aprovar o chamado a Guedes.