Ficou claro o constrangimento do vice-presidente Hamilton Mourão na entrevista concedida à Rádio Gaúcha nesta sexta-feira (16) ao ser perguntado sobre o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
No mesmo dia em que se soube da carta que Bolsonaro enviou nesta sexta-feira (16) ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, comprometendo-se a eliminar o desmatamento ilegal até 2030, Salles demitiu o superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas que o acusa de "advocacia administrativa" (defesa de interesses privados no setor público).
A carta é o primeiro sinal de que o governo enfim ouviu a voz da razão e tentará corrigir erros na área ambiental na cúpula do clima da próxima semana. Nos termos em que foi encaminhada, é insuficiente para o governo americano. A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, avisou que é necessária "redução real do desmatamento até o final da temporada de incêndios de 2021".
Se a carta é a chamada "condição necessária mas não suficiente" para as tratativas que podem ajudar a financiar o combate às queimadas e ao desmatamento ilegal da Amazônia, o time brasileiro tem um especialista em gol contra. O imbróglio em que Salles se meteu dessa vez é inacreditável.
Foi à Amazônia acompanhar a apreensão de carga de madeira que teria sido a maior do Brasil e... defendeu os madeireiros. O então chefe da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, disse que era a primeira vez que um ministro do Meio Ambiente contrariava a proteção da floresta amazônica. Disse "na Polícia Federal não vai passar boiada" e, na quarta-feira (14), foi demitido do cargo mesmo sendo considerado muito próximo à família Bolsonaro, depois de apresentar notícia-crime contra Salles.
Sobre o episódio, Mourão disse ao chegar ao trabalho nesta sexta-feira (16), mesmo dia do envio oficial da carta de Bolsonaro a Biden:
– Saraiva é um cara sério, como a maioria dos delegados da Polícia Federal, a imensa maioria, é tudo gente séria. Espero que o próximo superintendente que vá assumir lá na Amazônia continue a empreender as mesmas ações que o Saraiva vem empreendendo.
Antes do mais recente gol contra de Salles, cerca de 200 entidades ambientais, sindicais e de representação de indígenas havia enviado outra carta a Biden, pedindo que não fizesse acordo climático com Bolsonaro porque o governo não teria legitimidade. Representantes do governo americano já haviam advertido que, para uma negociação, é preciso confiança. Para obter algum resultado, o Brasil terá de dar provas de que, de fato, mudou. Não o fará sustentando a posição de Salles.