Pressionado pela mobilização de governadores e prefeitos e pelos números assustadores da pandemia, o Ministério da Saúde afirmou na quarta-feira (3) que planeja fechar contratos para compra de doses da Pfizer/BioNTech e da Janssen, da Johnson&Johnson.
A primeira é muito boa para grandes centros, que têm condições de oferecer armazenagem a temperaturas ultrabaixas, mas a segunda é um presente da ciência, a imunização que exige apenas uma dose e pode ser armazenada em temperatura garantida por geladeiras comuns.
Dados o retrospecto do ministério e o estágio da vacina na Janssen no Brasil, a expectativa é de que apenas no segundo semestre cheguem cerca de 38 milhões de doses. Mas o mundo acabou de ter uma lição de como líderes lidam com dificuldades: o governo Biden intermediou um acordo entre a duas concorrentes, a Janssen e a Merck, para acelerar a produção da vacina de dose única nos Estados Unidos, com objetivo de garantir número suficiente para vacinar toda a população vacinável até maio.
A Merck tentou produzir sua própria fórmula contra a covid-19, mas não conseguiu. Vai ceder duas de suas unidades para a Janssen, uma para produzir o imunizante, outra para envasar. Com o acordo, a expectativa é duplicar a produção da vacina. O acordo foi costurado com apoio do governo americano e anunciado pouco depois de a fórmula ter uso emergencial aprovado pela agência reguladora de medicamentos americana, a FDA.
Além de bastar apenas uma dose para entregar eficácia de 66%, a fórmula da Janssen pode ser armazenada em temperaturas entre 2ºC e 8º. Marcelo Silva, um dos líderes do movimento Unidos pela Vacina, que tenta acelerar a imunização no Brasil, disse que um dos os gargalos já identificados está a falta de geladeiras nos municípios. Para tirar a dúvida, a coluna perguntou se seriam as ultrafrias, mas o executivo disse que, infelizmente, não: são os comuns, que resfriam de 2ºC a 8ºC.
No Brasil, as vacinas chegam a conta-gotas, enquanto o presidente Jair Bolsonaro tenta se escudar no discurso de que o Supremo Tribunal Federal (STF) impede a a coordenação do governo federal nas ações de combate ao vírus. Em abril de 2020, o STF decidiu que Estados e municípios têm autonomia para adotar as medidas necessárias para conter o avanço do coronavírus. Agiu diante do foco presidencial no "tratamento precoce" e no desprezo aos dois maiores freios ao contágio enquanto a vacinação não avança, a máscara e o distanciamento social. E já esclareceu que não há qualquer proibição a iniciativas federais, como o ministro Eduardo Pazuello gosta de lembrar, exigindo a centralização na União.