Nas últimas semanas, as robustas e sucessivas intervenções do Banco Central (BC) no câmbio têm chamado a atenção de analistas de mercado.
A tese predominante é a de que o BC estaria administrando "rações" diárias de dólares com objetivo de frear a desvalorização do real até a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa nesta terça-feira (16) e deve comunicar elevação do juro básico no dia seguinte.
Doses reforçadas foram aplicadas em dias como o do anúncio da anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando chegaram a US$ 2,5 bilhões. A atuação se tornou tão previsível que já consta nos comunicados matinais do mercado. O da Terra Investimentos, por exemplo, projeta que o BC faça um leilão extra de US$ 500 milhões nesta segunda-feira (15), que pode ser considerado moderado diante do padrão da semana passada.
O principal objetivo seria conter as expectativas de aumento da inflação, que tiveram alta significativa nesta segunda-feira (15) no boletim Focus do BC. A média das projeções para o IPCA, o índice que o Copom usa para acompanhar seu desempenho no cumprimento da meta de inflação, saltou quase um ponto percentual, de 3,98% para 4,6% ao final do ano. Como o principal mandato do BC é conter a inflação dentro da meta, também subiu a projeção para o juro no final do ano, de 4% para 4,5%.
Como grande parte da inflação se deve à alta do dólar, o BC tenta, na avaliação de analistas, frear a moeda americana para que as projeções não subam ainda mais, o que exigiria um ajuste maior da taxa Selic, que serve de referência para a economia. Para intervir no câmbio, existem várias ferramentas, desde leilões de contratos, que não interferem nas reservas, até a venda de dólares no mercado à vista, o que reduz os estoques.
Apesar da redução substancial das reservas em relação ao topo, de US$ 401,6 bilhões em 23 de agosto de 2019, o colchão cambial que protege o Brasil de impactos externos ainda é bastante confortável. A "perda" foi de cerca US$ 47,5 bilhões, entre o topo e a data do registro mais recente. Mas chama atenção que o volume atual é o mesmo de janeiro de 2012, há nove anos.