O tamanho da calibragem ainda é motivo de controvérsia: há apostas de 0,25 a 0,75 ponto percentual no juro básico — as mais frequentes são de 0,5 ponto, com comunicado duro.
Mas há consenso de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevará a taxa de referência da economia pela primeira vez desde 29 de julho de 2015. E de que a decisão de quarta-feira (17) será apenas o início de um ciclo de alta.
Nesta semana, veio uma pá de cal na discussão se o Copom elevaria o juro agora ou em maio: o boletim Focus, pesquisa realizada com mais de uma centena de instituições financeiras e divulgada pelo BC, projetou salto na inflação de quase um ponto percentual, de 3,8% para 4,6%.
Neste ano, o centro da meta de inflação é de 3,75%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, a projeção já passou muito do centro e se aproxima do teto da meta, de 5,25%. E no grupo chamado Top 5, dos analistas que mais acertam, a estimativa para o IPCA neste ano é de 4,96%.
O principal papel do Banco Central, confirmado pela autonomia aprovada no Congresso e sancionada pela Presidência, é manter a inflação dentro da margem. Se não o fizer, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem de enviar uma carta explicando os motivos do descumprimento. Fazer isso no ano em que a instituição ganhou sua ambicionada autonomia seria ainda mais constrangedor.
A principal causa da inflação no Brasil é a variação cambial, ao lado da alta na cotação do petróleo, que fez disparar os preços dos combustíveis. E uma das causas da desvalorização do real ante o dólar é o juro negativo (taxa básica muito abaixo da inflação anual). Então, em tese, a elevação do juro teria força para conter o aumento generalizado dos preços. Mas os efeitos de ajustes na Selic levam entre seis e nove meses para produzir resultados concretos, e há inquietação sobre o risco de uma nova recessão, com queda do PIB nos dois primeiros trimestres.
Na visão do mercado, o objetivo da estratégia do BC de regar o câmbio com injeções diárias de contratos ou leilões de dólares é tentar evitar uma bordoada de 0,75 ponto percentual, que elevaria a Selic de 2% para 2,75% ao ano. Parte do mercado pressiona para que isso ocorra, ajudando a elevar o juro futuro, que baliza o custo do crédito para empresas. Na segunda-feira (15), esse indicador projetava a taxa básica em 6,5% no final do ano.
O problema é que, além de o Copom estar enredado na relação causa (juro negativo) e consequência (dólar alto), tem de encarecer o crédito no momento em que o financiamento volta a ser crucial para a sobrevivência de empresas com receita reduzida por restrições provocadas pela pior fase da pandemia no Brasil.