Se você nunca ouviu falar no grupo Évora, na Fitesa ou que o Rio Grande do Sul tem um grupo empresarial que ajudou a abastecer o país e o mundo com máscaras N95, não estranhe. Uma das características do conglomerado é a discrição, o que não quer dizer falta de transparência. Mesmo sendo uma empresa de capital fechado, ou seja, que não negocia ações no mercado, publica relatórios regulares sobre seu desempenho.
A explicação de William Ling, presidente do conselho de administração, é que todas as empresas do grupo são B2B. Na linguagem dos negócios, isso significa que não vende para o consumidor final, por isso não há razão para expor a marca ou detalhes da operação.
— Quando começou a pandemia, comentei que entraríamos na maior crise do século. Uma pandemia e uma depressão econômica. Vamos testar nosso modelo, vamos ver se minha tese está certa. E estamos crescendo 40% em reais e aumentando em 77% nossa geração de ebitda (sigla em inglês para o indicador que representa o ganho bruto do negócio, antes do pagamento de impostos e juros, entre outras despesas). Foi um teste para ver se o modelo é robusto. E em 2020, provou ser bem robusto
— comenta Ling sobre os desafios do primeiro ano da pandemia.
Com sede em Porto Alegre, a empresa mais conhecida do grupo, a Fitesa, tem cerca de 2,5 mil funcionários em 23 fábricas em 13 países: Alemanha, Brasil, China, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Holanda, Hungria, India, Itália, México, Peru, Suécia e Tailândia.
Na origem do grupo, está um imigrante, Sheun Ming Ling, que veio da China para o Brasil em 1951. Foi responsável pela disseminação do cultivo de soja no Rio Grande do Sul a partir de Santa Rosa, onde morou por algumas décadas. Foi um dos fundadores da Olvebra, depois ajudou a dar formato ao polo petroquímico gaúcho com a Petropar, criada em 1988. Nesse ano que foi da catástrofe ao recorde, o patriarca se despediu da vida aos 99 anos, em 19 de março.
Ainda em 2013, o nome foi trocado para Évora, mas não há relação com a cidade portuguesa de mesmo nome. A marca vem da fusão das palavras "evolução" e "valor", com a mudança de posição de algumas letras, dois valores essenciais para a companhia. Outro é a noção da responsabilidade social.
A família mantém o Instituto Ling, que até a morte do patriarca havia contemplado 772 pessoas com bolsas de estudo. Sobre esse hábito de devolver à sociedade parte dos ganhos da atividade empresarial, tão comum nos Estados Unidos, mas que ganhou relevância no Brasil exatamente a partir da pandemia, é visto com naturalidade por William Ling: diz que, em vez de perguntar "por que ajudar?", o certo seria indagar "por que não?". Em uma entrevista dada em 2017, o empresário disse, sobre a influência do pai:
— Ele sempre disse: tem de crescer, não para criar império, não para dizer "sou o maior", mas para possibilitar que as pessoas cresçam.
O baixo perfil é outro traço característico. Durante a entrevista em que revelou o investimento de US$ 450 milhões (R$ 2,5 bilhões pelo câmbio atual), o novo presidente do grupo, Silvério Baranzano, brincou:
— Outra como esta, só em 15 anos.