A coluna já calculou que cerca de um quinto dos cerca de 100 minutos da manifestação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (10), foi destinado à economia, com reação instantânea de calma no mercado financeiro.
No final do dia, o dólar caiu 2,5%, para R$ 5,65, e a bolsa subiu 1,3%, uma jornada muito favorável neste início de ano conturbado. Significa que o "Deus Mercado", como o ex-presidente chamou, aprovou o discurso. Não exatamente.
Bolsa e dólar haviam reagido na direção inversa nos dois últimos dias, com medo de Lula, mas também com preocupação sobre as consequências de sua elegibilidade sobre o ímpeto populista do presidente Jair Bolsonaro.
Desde o pé na porta presidencial na Petrobras, investidores olham com inquietação o que veem como excessivo foco eleitoral de Bolsonaro. Mas o que animou mesmo quem ganha dinheiro no dia a dia foi o avanço da votação da PEC Emergencial na Câmara e a aprovação do pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão nos Estados Unidos. E no câmbio, mais uma ração do Banco Central estimada em cerca de US$ 1,5 bilhão ajudou a verdinha a murchar.
Significa que o mercado aprova Lula? Ainda não. Que "se descolou" do potencial candidato? Em parte, sim. Mas a reação serena também embute um recado. Se Lula, que neste momento é um candidato viável à Presidência da República, tivesse falado em "cortar a cabeça da jararaca" ou usado outras expressões de discursos anteriores, talvez não tivesse sobrado humor para a boa reação aos dois outros fatores de alívio.
Com defesa da máscara, da vacina e da ciência e o aceno aos empresários, apesar do desafio ao mercado na crítica à paridade de preços adotada pela Petrobras, Lula construiu sob medida um discurso racional e pacífico, além de um contraponto às manifestações de Bolsonaro, ao menos em termos de discurso.