O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Em meio à crise gerada pela pandemia, o Rio Grande do Sul fechou o quarto trimestre de 2020 com 106 mil trabalhadores desalentados. A expressão é usada para definir o grupo que desistiu de procurar emprego por falta de esperança de encontrar vagas. Na prática, simboliza um dos reflexos das dificuldades no mercado de trabalho.
É como se quase toda a população de Erechim (106,3 mil), no norte do Estado, deixasse de buscar oportunidades por acreditar que não tem vez. A quantia é a maior para o quarto trimestre da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa começou em 2012.
No quarto trimestre de 2019, o Rio Grande do Sul tinha 80 mil desalentados. Ou seja, no intervalo de um ano, 26 mil pessoas passaram para o grupo, alta de 32,5%.
A situação gaúcha pega carona no quadro nacional. Conforme o IBGE, o país fechou o quarto trimestre de 2020 com 5,8 milhões de desalentados, avanço de 25,3%. Um ano antes, havia 4,6 milhões — 1,2 milhão a menos.
Se serve de consolo para o Estado, as estatísticas oficiais sinalizam trégua em relação aos meses iniciais da pandemia. No segundo trimestre de 2020, o grupo de desalentados subiu para 118 mil no Rio Grande do Sul. Entre julho e setembro, houve mais um avanço, para 132 mil. Até que, no quarto trimestre, o número encolheu, embora siga em nível histórico elevado, acima da barreira dos 100 mil.
Na largada de 2021, a piora da pandemia, acompanhada da paralisação de atividades econômicas, traz novos riscos. Em um cenário repleto de interrogações, resta uma certeza: a melhora depende do avanço da vacinação contra a covid-19.
O processo de imunização, até o momento, transcorre em velocidade aquém da esperada no país. Enquanto isso, ganha força a possibilidade de nova troca no comando do Ministério da Saúde. Pressionado, o ministro Eduardo Pazuello pode deixar o governo em breve. Analistas do mercado financeiro preveem semana agitada na política, com impactos na economia.