O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Imagine se quase toda a população de um município como Bagé (121,3 mil), na Campanha, não procurasse emprego por perder a esperança de encontrar novas oportunidades. Essa comparação pode ser usada para explicar uma situação vivida no Rio Grande do Sul em tempos de pandemia.
No segundo trimestre, o número de trabalhadores desalentados subiu cerca de 65% no Estado, para 118 mil, sinalizam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No período de janeiro a março, estava em 71 mil.
Ou seja, de um trimestre para o outro, o grupo ganhou 47 mil pessoas. A marca supera a população de um município do porte de Osório (46,4 mil), no Litoral Norte.
O termo desalentado descreve o profissional que, apesar do desejo de atuar, não tomou providências efetivas para buscar novo emprego, em meio ao desânimo com o mercado de trabalho. A busca efetiva por oportunidades, com ou sem carteira assinada, inclui cadastro em sites de contratações e análise de anúncios em jornais, por exemplo.
O aumento no número total representa um dos tantos desafios que a economia tem no horizonte dos próximos meses. Na teoria, o mercado de trabalho é uma das últimas variáveis a se recuperar de períodos de crise, já que depende da reação dos negócios como um todo.
Nesse sentido, a reabertura gradual de empresas traz algum alento. A questão é que o cenário segue recheado por incertezas geradas pelo coronavírus. Em outras palavras, o nível de reabertura dependerá do comportamento da pandemia.
Apesar da alta no segundo trimestre, o número de desalentados no Rio Grande do Sul está distante do topo da pesquisa no país. Conforme o IBGE, a Bahia é o Estado com o maior contingente de trabalhadores nessa situação. Por lá, entre abril e junho, o número chegou a 849 mil. Estava em 778 mil entre janeiro e março.
Em todo o Brasil, o grupo de desalentados alcançou a marca de 5,6 milhões de pessoas. Representa alta de 19,1% em relação ao trimestre anterior.