O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Depois de cair 4,3% em 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer 4% no próximo ano, projeta a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para o PIB industrial, a entidade prevê alta de 4,4% em 2021, após retração de 3,5%. Em entrevista à coluna, o economista Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI, comenta as previsões e avalia o cenário para os negócios. A seguir, veja os principais trechos.
Como descreve o cenário para a economia em 2021?
É uma recuperação parcial. Tivemos uma depressão muito grande em 2020. Paramos em março e abril. O avanço de 4% é sobre uma base de comparação muito deprimida, apesar de a recuperação estar sendo rápida.
Qual é o horizonte para a indústria nacional?
A indústria vai começar o próximo ano ainda em bom momento. O setor, como um todo, vem operando acima do início da pandemia, mas tem segmentos com mais dificuldades. Percebemos ainda problemas de oferta e demanda, de estoque e (falta de) insumos. São consequências da rápida recuperação. Esperamos que a normalização dos estoques aconteça ao longo do primeiro semestre.
A gente sabe que, ao mesmo tempo, a demanda vai dar uma arrefecida, porque os impulsos à economia neste ano não vão estar presentes no próximo. Mas acreditamos que a indústria continuará tendo performance acima do que o restante da economia. O setor de serviços vai continuar com alguma dificuldade. Hoje, parte dos serviços não pode ser ofertada como era antes, seja pela limitação de público ou seja pelo receio de alguns consumidores.
Medidas de estímulo à economia devem perder fôlego em 2021. A situação preocupa?
À medida que a economia chegar ao nível de atividade de antes da pandemia, vai começar a esbarrar em problemas antigos que limitavam o crescimento. São questões de competitividade que afetam a indústria há algum tempo, como a tributária e a logística. Aí vai ser fundamental que estejamos encaminhando reformas. Algumas não têm efeito imediatos, mas começam a coordenar investimentos, a ancorar expectativas no campo positivo.
Quais reformas?
A tributária, sem dúvida alguma, é fundamental. Sempre que perguntamos aos empresários, um dos problemas mais relatados é o do sistema tributário. A administrativa é importante para dar segurança no campo fiscal.
A inflação subiu com o impacto de alimentos. É um choque momentâneo ou não?
A alta de preços veio com o desabastecimento de insumos. Isso chegou a limitar a produção em alguns setores, o que é preocupante. Mas começou, entre novembro e dezembro, uma normalização de estoques. Acreditamos que essa situação é mais transitória.
Tem outra ponta que pode ser mais duradoura. É a do câmbio. A taxa de câmbio deu salto muito forte e depois oscilou bastante. Isso também teve efeito no valor de insumos. Recentemente, o câmbio passou a oscilar menos e, assim, deve ajudar em uma melhora nos preços. É nisso que estamos acreditando. Não acreditamos em pressão inflacionária muito forte no próximo ano. Deve ficar dentro da meta.