Um dia depois do que foi chamado de "anúncio histórico" no Palácio do Planalto, ainda há mais dúvidas do que certezas sobre o plano nacional de imunização. As informações ainda são desencontradas, embora tenha ocorrido uma mudança no tom do discurso do presidente Jair Bolsonaro, que deve ser tão saudada como cobrada, para que vire prática.
O que mais importa, para reduzir a incerteza que causa angústia e ansiedade nos brasileiros, é a definição se a Coronavac se tornou mesmo a maior aposta para começar a vacinação em fevereiro, como anunciado.
A vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac e pelo Instituto Butantan é a que tem perspectivas mais imediatas de aprovação na Anvisa. O governo de São Paulo, dono do Butantan, anunciou que vai entregar estudos e pedir registro na Anvisa no dia 23. Garante que seria possível começar a imunização em 25 de janeiro.
Agora, há uma disputa sobre a vacina: o governador do Pará, Helder Barbalho, disse nesta quinta-feira (17), o governo federal quer comprar todas as 45 milhões de doses de Coronavac. Embora o Butantan já tenha demostrando boa vontade e começado as negociações com o Ministério da Saúde, há dúvidas se aceitará entregar toda sua produção. Se o acordo for confirmado, será a melhor notícia do ano. Resta saber de qual, se ainda em 2020 ou só em 2021.
Ainda faltam definições sobre a vacina de Oxford com a AstraZeneca, e a da Pfizer com a BioNtech, que só devem avançar no próximo ano. Como o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que a logística para distribuição será "simples", parece não incluir a segunda fórmula, que exige transporte e manutenção em -70ºC. Também nos discursos há sinais de conforto e preocupação. A cerimônia também teve uma frase alentadora de Bolsonaro:
– A grande força que todos nós demonstramos agora é a união para buscar a solução de algo que nos aflige há meses. Se algum de nós extrapolou ou exagero, foi no afã de buscar uma solução.
Enfim, o presidente fala para a maioria silenciosa que aguarda a vacina como salvação de vidas e de negócios, em vez de se dirigir à minoria terraplanista, antivacina e sem empatia. A mudança súbita de tom despertou suspeita sobre sua sinceridade. O que vai chancelar as palavras será a prática. Em contraste, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, levantou indignação ao perguntar, em tom exasperado:
– Para que essa ansiedade, essa angústia?
Para Pazuello, não deve provocar ansiedade e angústia o fato de a pandemia estar outra vez se agravando, de a capacidade hospitalar estar em risco e de a incerteza afetar a perspectiva de que a atividade econômica possa caminhar para a normalização. Discursos importam, porque podem contribuir para agravar ou suavizar o impacto psicológico do coronavírus, que não é pequeno. Mas o mais que deu mais conforto foi o sinal de abertura a opções na lista de imunizações no radar. A pacificação do assunto interessa a todos os brasileiros.