Em uma reunião, na tarde desta quarta-feira (16), diretores dos seis hospitais de Caxias do Sul declararam o colapso da rede hospitalar na cidade e uniram as vozes em um único apelo: para que a população adote as medidas de prevenção ao coronavírus. O pedido foi reforçado pelo prefeito Flávio Cassina, o vice-prefeito, Edio Elói Frizzo, o secretário de Saúde, Jorge Olavo Hahn Castro, e a coordenadora da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (5ª CRS), Tatiane Fiorio.
O prefeito falou da preocupação com a situação atual da saúde na cidade e da apreensão quanto a uma possível classificação da região em badeira preta, amanhã, na divulgação do mapa do Modelo de Distanciamento Controlado do governo do Estado.
– Estamos com a capacidade (hospitalar) totalmente estourada. Temos dificuldade de manutenção da bandeira vermelha. Na iminência de passar para a bandeira preta. Alguns já falam em lockdown. A situação é terrível. Nunca se esteve tão fora do controle como se está agora. Pedimos apoio de toda a comunidade que não está levando muito a sério.
A gestora estadual lembrou que Caxias escapou por pouco de ser classificada como de altíssimo risco de contágio na última rodada do mapa. A região ficou com 2,49 na avaliação dos indicadores, faltando apenas 0,01 para entrar na bandeira preta. Segundo ela, porque houve abertura de 20 novos leitos na região. Contudo, a tendência aponta para que isso ocorra amanhã, no anúncio das novas bandeiras.
– Nosso grande desafio é sensibilizar a população nas medidas de prevenção. Se nada for feito estamos prevendo um mês de janeiro muito difícil e complicado. A população precisa fazer a sua parte como todos nós estamos fazendo – disse Tatiane.
O secretário de Saúde, argumentou que a rede está chegando ao fim da capacidade de abertura de novos leitos de UTI e de enfermaria, não por falta de material, mas e profissionais da saúde. E lembrou que as atuais equipes estão se aproximando do esgotamento.
– As medidas restritivas, que poderíamos adotar, só vão funcionar para aqueles que realmente estão seguindo isso. Grande parte da população abandonou os cuidados e para essas pessoas, medida restritiva nenhuma vai funcionar. A pandemia está no auge e se não tivermos uma ajuda da população, em futuro muito breve vamos ter uma situação caótica – alertou Castro.
O momento de fazer escolhas está próximo dizem diretores dos hospitais
Cada um dos diretores dos seis hospitais de Caxias se pronunciou durante a reunião. O tom de todos era de preocupação. Alguns chegaram a dizer que a cidade se aproxima do momento de ter que escolher qual paciente tem mais chance de sobrevivência na hora de encaminhá-lo para um leito de UTI.
– Ainda não aconteceu de ter que fazer escolhas, mas é algo inevitável se as coisas continuarem assim, na primeira quinzena de janeiro, é inevitável que se tenha um ponto de corte ou alguma comorbidade que tenha que ser afastada de cuidados intensivos para poder preferir algumas pessoas que saibamos historicamente que tenha mais chance de sobreviver – declarou Vinícius Lain, diretor técnico do Hospital Unimed.
A diretora do Hospital Virvi Ramos, Cleciane Doncatto Simsen, disse que, na prática, quando os hospitais são obrigados a suspender procedimentos eletivos que exijam UTI por conta da lotação, eles já estão fazendo escolhas:
– Tem várias escolhas, essa da terminalidade, da complexidade do paciente, quando chegarmos nesse ponto de esgotamento, e vamos chegar ao que tudo indica, e estas outras escolhas de não poder liberar uma cirurgia que seria necessária, mas é postergada e o paciente pode ter uma complicação por conta disso.
Confira o que dizem os diretores dos hospitais:
"Ainda não aconteceu de ter que fazer escolhas, mas é algo inevitável se as coisas continuarem assim, na primeira quinzena de janeiro, é inevitável que se tenha um ponto de corte ou alguma comorbidade que tenha que ser afastada de cuidados intensivos para poder preferir algumas pessoas que saibamos historicamente que tenha mais chance de sobreviver."
Vinícius Lain, diretor técnico do Hospital Unimed
"Se a gente não está liberando uma cirurgia porque ele (paciente) não vai ter a retaguarda de um leito de UTI, estamos fazendo uma escolha porque não estamos dando acesso a esta pessoa para ter continuidade de um tratamento; não por uma escolha institucional ou médica, mas pelo momento que estamos vivenciando."
Cleciane Doncatto Simsen, diretora do Hospital Virvi Ramos
"Nosso mobilização é justamente para tentar evitar essa escolha, que a gente possa atender a todo mundo que precisar da estrutura hospitalar. Mas o que se apresenta é muito preocupante e, se realmente, tivermos que passar por isso, não há escolha, vamos ter que definir quem tem mais condições de sobrevivência. Isso é muito triste, não queremos ter que passar por isso, não queremos que a população passe por isso, mas temos que tomar atitudes que realmente reflitam em ter menos pessoas contaminadas e precisando da estrutura hospitalar e até sair a vacina, isso vai depender muito da consciência e da responsabilidade das pessoas em relação aos contatos e quebras de barreira que estão instituídas há quase um ano (protocolos)."
Isabel Bertuol, diretora do Hospital do Círculo
"O atendimento da covid levou ao colapso do sistema. Temos hoje (ontem) 10 pacientes aguardando uma internação em UTI, fora de um regime de UTI, ou seja, tendo que manter todo a assistência e suporte a pacientes críticos fora das condições ideais para que possamos tratar esse paciente. De fato, é bem preocupante porque a pandemia está nos vencendo e não nós a ela."
Lara Vieira, superintendente do Hospital Pompéia
"É uma equipe que está desgastada. Nós precisamos conclamar a população para que todo mundo possa se cuidar, usar os EPIs, não aglomerar, não fazer festa clandestina, ter responsabilidade pessoal, evitando piorar mais a situação. Tememos o que vai ser depois das festas. A doença não é brincadeira. O índice de morte em UTI é muito grande, depois de entubado."
Sandro Junqueira, diretor do Hospital Geral
"Está mais do que na hora de olharmos bem para esse cenário e acreditarmos nele. Estamos em um momento crítico e esse momento temos que passar com força e segurança. Entendam o cenário e vejam que realmente ele é grave."
Eduardo Guedes, superintendente do Hospital Saúde
Como está a ocupação de leitos de UTI em Caxias
176 leitos, 166 ocupados - 94,31% de ocupação
64 pacientes confirmados
20 pacientes com suspeita
82 pacientes não covid
Hospital da Unimed - 45 leitos - 42 ocupados - 93,68% de ocupação
Hospital Pompéia - 37 - 36 - 98,15% de ocupação
Hospital Virvi Ramos - 26 - 25 - 99,67% de ocupação
Hospital do Círculo - 22 - 20 - 95,24% de ocupação
Hospital Saúde - 10 - 8 - 80% de ocupação
Hospital Geral - 36 - 35 - 97,22% de ocupação