O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
O coronavírus tende a agravar um quadro que preocupa especialistas nos últimos anos. Trata-se da perda de fôlego da economia nacional na comparação com o desempenho de outros países. Antes da covid-19, o Brasil já patinava na tentativa de deixar para trás a herança da recessão de 2015 e 2016. Com a pandemia, terá desafio ainda maior para recuperar os prejuízos de sucessivos anos de crise ou baixo crescimento.
Levantamento encaminhado à coluna pelo economista Marcel Balassiano ilustra essa preocupação. No período de 2011 a 2020, o PIB brasileiro deve registrar leve recuo de 0,1%, em média, por ano, indica o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Isso quer dizer que, em uma amostra de 191 países, 167 (ou 87% do total) terão desempenho melhor do que o verde-amarelo ao final da década. Para chegar à conclusão, Balassiano usou dados oficiais, além de estimativas para 2020 do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do boletim Focus, do Banco Central (BC).
– De 2014 para 2020, tivemos uma recessão por fatores internos, seguida por recuperação lenta, e agora a crise do coronavírus – sublinha o economista.
O recuo médio de 0,1% no PIB, a partir de 2011, também representará a primeira década de queda em uma série histórica de 120 anos. O desempenho mais fraco até então havia sido registrado entre 1981 e 1990. À época, o PIB cresceu, em média, 1,6% ao ano. Ou seja, em intervalo de 40 anos, o Brasil amargará duas décadas perdidas em termos de avanço econômico.
Diante da situação, não resta outra saída a não ser retomar a agenda de reformas após a pandemia, argumenta Balassiano. Por enquanto, a hora é de tentar mitigar os efeitos nocivos da covid-19. Principalmente entre os mais vulneráveis.