A semana de 22 a 28 de junho de 2020 concentrou tantos eventos extraordinários que suscitou temores apocalípticos. Uma praga de gafanhotos quase invadiu o Estado, que teve ainda uma explosão de meteoro, e uma tempestade de areia nascida no Saara, na África, chegou ao Caribe.
Até o mais cético dos humanos se indaga se essa concentração de eventos improváveis é ou não um recado do universo. Na economia, a sensação de fim de mundo foi reforçada pela projeção de queda de 9,1% do PIB no Brasil feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), mas suavizada por uma também rara semana de paz no Planalto.
Além do surpreendente discurso conciliador do presidente Jair Bolsonaro em uma cerimônia ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, a indicação do novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, é uma reviravolta na estratégia para o setor. Sua disposição para o diálogo contrasta tanto com o discurso do antecessor que custa até acreditar. Em entrevista na manhã desta sexta-feira (26) à Rádio Gaúcha, disse que pretende valorizar as pesquisas das universidades brasileiras.
Se a paz no Planalto durar, será um alívio para uma economia já acossada por suas próprias pragas: a recuperação lenta que antecedeu a pior pandemia da história, a falta de instrumentos para deter seu avanço que obriga a interrupção das atividades, a dificuldade de fazer o socorro que permitiria as pessoas e empresas sobreviverem a todas essas provações.
Nessa semana de espantos, o Congresso conseguiu tirar da gaveta o novo marco regulatório do saneamento, acenando com investimentos bilionários. Foi quase ao mesmo tempo em que fundos de investimentos que administram recursos estimados em R$ 20 trilhões mandaram um novo alerta ao Brasil: não haverá projetos por aqui se o país não se comprometer com o cuidado ambiental.
Se é verdade que a paralisação das atividades agrava as projeções de queda para o PIB, e em muitos casos é inevitável, outro fator que os analistas levam em conta para estimar os danos à economia é a profundidade da crise política.
Até agora, não só não foi contornada, mas foi propositalmente aprofundada pelo presidente. Ao contrário do isolamento, não se impõe como remédio na falta de medicamento ou vacina. É evitável. Caso perdure, pode ajudar a desmentir profecias apocalípticas para o Brasil.