Em meio à chuva, os canteiros de obras em Porto Alegre pararam no final da tarde desta quinta-feira (25) por tempo indeterminado. Com o início da vigência das restrições às atividades na construção civil nesta sexta-feira (26), atendendo a decreto da prefeitura da Capital, 192 obras privadas ficarão inativas, de acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS). Enquanto vigorar a regra, apenas intervenções públicas e em áreas consideradas essenciais, como saúde, segurança e educação, poderão ser realizadas.
No último dia anterior à paralisação, por conta do mau tempo, os trabalhos nos canteiros foram restritos às áreas fechadas. Além disso, desde o início da semana, máquinas vinham sendo recolhidas aos poucos, para evitar que se deteriorem durante a paralisação. O presidente do Sinduscon-RS, Aquiles Dal Molin Junior, considera que há contradição da prefeitura ao distinguir obras públicas e privadas na hora de aplicar as restrições.
— O vírus não sabe distinguir o que é obra pública ou privada. Há incoerência da prefeitura ao fechar atividades privadas e manter as públicas — aponta.
Caso a inatividade se prolongue, o dirigente estima que as empresas terão de cortar postos de trabalho. A avaliação é que o uso de mecanismos como férias coletivas e redução de jornada e suspensão de contrato de trabalho já estão esgotados. Antes da pandemia, o setor empregava 27 mil pessoas na Capital.
Em grandes obras, o processo de desmobilização da mão de obra e de preparação do canteiro para a parada começou nos últimos dias. No Pontal, um dos maiores empreendimentos em construção na Capital, mais de 500 pessoas, entre empregados diretos e indiretos, ficarão sem atividade a partir de sexta. A expectativa é que a parada seja menor em relação à anterior, entre março e abril. Na ocasião, o setor foi um dos primeiros a retomar as atividades.
— Entendemos que não depende só da construção civil, mas esperamos retornar em até 15 dias — projeta Carlos Beltrão, gerente de engenharia do Pontal.
Entre os trabalhadores, a possibilidade de demissões em massa preocupa. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil (STICC), Gelson Santana, critica a falta de planejamento do poder público para evitar os efeitos ocasionados pela perda de renda dos trabalhadores. Na construção civil, além do salário base, os empregados costumam receber por metas atingidas.
— Vínhamos de uma retração muito forte na construção nos últimos anos, a atividade estava começando a se recuperar. A gente não discorda da decisão da prefeitura, mas é preciso ter alguma política neste momento de pandemia para ajudar os trabalhadores mais necessitados — reivindica.
Enquanto vigorar o decreto, a prefeitura manterá todos os canteiros de obras públicos ativos. O secretário extraordinário de enfrentamento ao coronavírus de Porto Alegre, Bruno Miragem, justifica que a medida será tomada pelo "interesse público das obras e porque, em algumas delas, há compromisso do município na execução para aplicação dos recursos obtidos em financiamentos."