Anúncios do Itaú Personnalité, segmento de alta renda do maior banco brasileiro, abriram uma disputa com a corretora XP, a maior do país, e agentes autônomos de investimento.
Um detalhe que tem intrigado o mercado financeiro é o fato de o Itaú, desde 2017, ser dono de 49,9% da corretora. Portanto, trata-se de fogo amigo. Ou o bancão está dando tiro no pé.
Em um dos vídeos, que foram ao ar na noite de terça-feira (23), um ator, simulando estar em 2019, ano em que a bolsa de valores alcançou 100 mil pontos, diz receber dicas de seu assessor de investimento, que afirma não haver risco no mercado de capitais.
— Tô me sentindo o rei de Wall Street — afirma o ator, para depois se ver em 2020, quando a bolsa acumula perda ao redor de 30%, dizendo ter chegado à conclusão de que o risco não existia para o tal agente, que "ganhava comissão por tipo de investimento”.
A XP se sentiu atacada porque trabalha com o modelo de agentes autônomos de investimento. São profissionais com experiência no mercado financeiro que, individualmente ou em empresas, vendem os produtos da XP para pessoas físicas. São fundos de ações com perfis diversos, em tese adaptados às necessidades de cada um. Em carta aberta, o presidente da XP, Guilherme Benchimol, revidou, criticando a concentração no sistema bancário:
"Estamos há 20 anos lutando contra um sistema financeiro concentrado que nunca inovou e nunca se preocupou com o que realmente importa: o cliente! Tenho certeza que os bancos preferem o Brasil do passado, com juros altos e baixa concorrência, explorando ainda mais os empresários e os investidores individuais."
Benchimol também tenta responder às críticas do próprio sócio:
"A nova campanha do Itaú ataca o comissionamento dos assessores na distribuição de produtos financeiros, como se ganhar dinheiro com o trabalho fosse errado. (...) O assessor é um empresário, um empreendedor que tem a sua própria empresa e somente sobrevive se a visão for de longo prazo, com um cliente realmente satisfeito e muita ética em todas as suas atitudes. Se ele falhar, não poderá mudar de emprego, mas, sim, fechará o seu negócio."
A história da XP foi construída com ajuda de um grupo de executivos gaúchos que deixaram a companhia e criaram sua própria plataforma de investimentos, a Warren, além de vários outros negócios conectados ao universo digital. Um deles, Tito Gusmão, CEO da Warren, já disse à coluna:
– O mercado de investimentos tradicional é pensado para detonar com o cliente. Sei porque já estive do lado negro da força – afirma o ex-sócio da XP Investimentos.
Ou seja, além de ser uma briga de gigantes – mesmo com fogo amigo –, trata-se de uma disputa em que ambos têm pés de barro: precisam dar explicações a dar a seus clientes. A coluna voltou a falar com Gusmão nesta quarta-feira (24), dia seguinte ao fato gerador do conflito, e ele reiterou:
– Nenhum tem razão.