Depois de abrir o discurso de posse como ministro da Saúde com a frase "não importa o quanto se fale em economia, o mais importante são as pessoas", Nelson Teich o encerrou em outro tom:
– Minha missão é levar o Brasil a uma situação melhor tanto na saúde quanto na economia.
Chamou atenção o tempo verbal usado por Reich para descrever sua relação com a medicina: "Fui médico". Hoje, é gestor e empresário. Sócio da Teich Health Care, uma consultoria de serviços médicos, fez discurso focado em gestão, usando várias vezes uma palavra que não sai do vocabulário do empresariado nestes dias complexos para todos: incerteza. Também mencionou a necessidade de "desenhar o processo" da resposta, outro hábito de executivos.
Teich usou conceitos de governança corporativa, como a integração dos ministérios para mapear todas as questões fundamentais para a saúde, como logística e recursos para compra de equipamentos. Também destacou a necessidade de formar times com as pessoas mais capacitadas de cada área. Mas um dos trechos mais promissores, ainda que pareça paradoxal, é o em que reconhece a "pobreza de informações sobre a doença, tanto na evolução, quanto de possíveis tratamentos":
– Isso leva a um nível de ansiedade e a um medo enorme. Então, além do problema clínico de curar a doença, é preciso administrar uma sociedade que está com muito medo. Quando vim do Rio, o aeroporto estava deserto, todos usavam máscaras, parecia um filme. Isso dá medo.
Essa admissão é importante porque indica que suas decisões serão baseadas em fatos e dados, o que no Brasil de hoje é reconfortante. O novo ministro assegurou que vai conduzir sua atuação por "informação" e "conhecimento". Um pouco fora de tom foi a menção ao planejamento de um "começo de solução", por passar a impressão de que pretenderia ignorar o conhecimento e as providências acumulados até agora. Pode ter sido um escorregão vocabular, mas acendeu um ponto de atenção.
Outro foi o silêncio absoluto sobre o futuro do distanciamento social. Na véspera, ao ser apresentado, havia afirmado que não haveria "decisão abrupta". Nesta sexta-feira (17), não repetiu a frase. Ao mencionar a necessidade de compor o cenário com outros dados, mencionou que, se o desemprego crescer muito, mais pessoas vão perder seus planos de saúde, o que vai impactar o Sistema Único de Saúde (SUS).
Quando o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta encerrou seu discurso, disse estar preocupado com a "segunda onda" – expressão usada pelo presidente Jair Bolsonaro para se referir ao impacto na economia – que será um grande desafio para Paulo Guedes, ministro da Economia. Ao encerrar, o presidente insistiu em sua tese de que não é possível "jogar a conta no colo do Dr. Guedes".
Teich foi desafiado fazer uma gestão salomônica entre a forma aplicada em todo o mundo civilizado e alguma alternativa ainda desconhecida. Bolsonaro pediu que divida por dois a soma de sua própria posição e a de Mandetta. Cabe torcer para que não seja soma zero.