Mal havia dado tempo de esclarecer o tamanho do desgaste imposto ao ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente Jair Bolsonaro abriu novo front de conflito ao bater de frente com seu ministro mais popular, o da Justiça, Sergio Moro. No entorno do Palácio do Planalto, uma das avaliações era a de que este seria o momento para "sair" Moro, porque as atenções estão voltadas a outro problema, a pandemia de coronavírus.
O dia já não seria fácil no mercado financeiro, como não tem sido desde que a turbulência relacionada ao coronavírus começou. Mas o avanço do dólar para R$ 5,65 e uma queda de mais de 7% da bolsa, que foi se aprofundando à medida que Moro fez sérias acusações de tentativa de interferência do presidente em investigações da Polícia Federal. Para dar uma ideia do peso do ambiente interno na reação, a bolsa de Nova York, principal referência das operações nacionais, recua apenas 0,12%.
– É incrível a capacidade de o presidente gerar instabilidade institucional com efeitos sobre os mercados – observa o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
– Estamos vendo um governo se desfazer em meio à uma situação gravíssima de política internacional – avalia Fernando Bergallo, diretor de câmbio da FB Capital.
Desde cedo, os relatórios matinais das empresas do setor financeiro apontavam os riscos da queda de Moro e de seu impacto no mercado. Alvaro Bandeira, experiente economista-chefe do Modalmais, aponta o agora ex-ministro como uma das "sustentações" do governo Bolsonaro. A outra é Guedes.
O ministro da Economia tem dito a vários interlocutores, com amplo apoio de economistas renomados, que o esboço do plano Pró-Brasil, apresentado na quarta-feira (22), é o PAC de Dilma Rousseff. Moro e Guedes foram os grandes fiadores de Bolsonaro na elite econômica. O presidente não perdeu, livrou-se de um. Se não mantiver o outro, deixa uma interrogação sobre quais os pilares em que vai se sustentar a partir de agora.
– Moro não é o único pilar do governo, mas o deixa mais vulnerável – avalia Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV (antes Banco Votorantim).
André Perfeito, economista-chefe da Necton, ponderou que "num dia de extremo nervosismo o mercado especula se o governo Bolsonaro não está tentando se reorganizar em meio a crise e isso pode revelar ainda mais mal-estar". Na visão do analista, demitir o superintendente da Polícia Federal faz sentido no "movimento de aproximação do centro, uma vez que a Polícia Federal sempre será uma fonte de tensão com parte da classe política".
– Seja como for, a cooptação do Centrão precisa também passar pelo Ministério da Economia, uma vez que a demanda por recursos é infinita neste momento de crise econômica e, em especial, em ano eleitoral. Tudo isso em conjunto sugere que o presidente irá ter que sacrificar a Economia para não perder sua investida ao centro do tabuleiro – projetou Perfeito.
Leia trechos dos relatórios matinais que já apontavam preocupação com saída de Moro
Matheus Soares, analisa da Rico
"A notícia da saída de Valeixo e possível saída de Moro que circulou na mídia, trouxeram bastante volatilidade ao Ibovespa no dia de ontem: o índice apontava uma alta de 1% e chegou a recuar 3% após os rumores. Dado que ao longo do pregão o mercado cogitou que fosse fake news e recuperou parte da queda no fechamento (-1,26%), é bem possível que mais volatilidade venha por aí. O índice futuro do Ibovespa recua 1,9% e dólar futuro sobe 0,4%, cotado a R$ 5,56, nesse momento em que escrevo (antes da abertura do mercado)."
Alvaro Bandeira, economista-chefe do Modalmais
"O Diário Oficial de hoje traz a exoneração de Valeixo e resta ver qual será a decisão do ministro. Os mercados devem aguardar por isso já que Moro sempre foi uma das sustentações do governo de Bolsonaro. O dia por aqui será definido pela decisão a ser anunciada por Sérgio Moro, a performance dos mercados dependerá disso."