Para tentar evitar que a cotação do petróleo caísse, diante das expectativas de desaceleração provocadas pelo impacto econômico do coronavírus, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tentou um acordo com a Rússia na semana passada. O objetivo era reduzir a produção para reduzir a oferta e frear a queda de preço. A Rússia não aceitou, o que derrubou o valor do barril em quase 20% entre quinta e sexta-feira da semana passada, para US$ 45. No início de janeiro, estava em US$ 68,71. No sábado, a Arábia Saudita decidiu elevar sua produção e oferecer grandes descontos para ganhar mercado.
Até então, o óleo tipo brent, referência no mercado internacional, já havia ficado 30% mais barato, parte por efeito do coronavírus, parte já como resultado da falta de acordo na Opep. Caso os sauditas concretizem a ameaça, a tendência é de queda ainda maior. A Petrobras, que já havia reduzido os preços dos derivados no Brasil, terá de repassar os novos valores.
– Se o petróleo cair, o câmbio ficar estável e o setor repassar, o preço dos derivados na bomba tende a diminuir – afirma Décio Oddone, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
É bom frisar o trecho "se o dólar ficar estável", o que não está garantido. Mas como a Petrobras usa os dois critérios para definir preços internos – cotação internacional e câmbio –, e um deles mergulhou dramaticamente, será preciso repassar.
– O mercado vai testar preços abaixo de US$ 40 – projeta João Luiz Zuñeda, diretor da MaxiQuim, consultoria que acompanha o mercado de petróleo e derivados, acrescentando que a dúvida é sobre a velocidade da queda no Brasil.
Outra questão é a duração dessa fase de baixa nos preços. Analistas consideram essa estratégia da Arábia Saudita insustentável por um longo período. É mais um instrumento para pressionar a Rússia do que uma mudança duradoura. O diretor-geral da ANP aproveita para retomar o debate aberto neste ano sobre a tributação dos combustíveis:
– Vai haver impacto na arrecadação dos Estados se o valor do ICMS continuar sendo fixado quinzenalmente.
O que seria um alívio no bolso dos brasileiros, porém, embute riscos. Oddone adverte que, se petróleo muito caro é ruim, muito barato, também:
– Impacta empresas, investimentos de empresas, emprego, arrecadação.