No dia em que as bolsas de Nova York e de São Paulo engatam alta firme, a cotação do dólar no Brasil teve a maior alta desde o início da fase aguda da turbulência nos mercados internacionais, há 10 dias. Com valorização de 1,54%, a moeda americana fechou em R$ 4,581, a poucos centésimos dos R$ 4,60, uma nova marca psicológica. Como o movimento não faz muito sentido em dia de recuperação de ações, a coluna buscou ajuda de um especialistas para explicar os motivos da alta.
– É absolutamente sem sentido – diagnostica Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, um dos mais respeitados especialistas em dólares no país.
Na avaliação de Nehme, a alta não tem sustentação em ocorrências de mercado. Para o especialista, o corte extraordinário no juro americano anunciado na véspera ainda reverbera entre investidores e especuladores:
– Como foi uma decisão abrupta, intempestiva, a leitura do mercado, que depois se generalizou, foi de que a crise é maior do que está percebendo. Isso trouxe apreensão. A expectativa de que o juro francamente negativo (abaixo da inflação) nos EUA possa irrigar mercados emergentes com dólares não se concretiza. O dinheiro não sai do dólar porque, em cenário conturbado, continua sendo um porto seguro.
Para Nehme, o discurso do ministro Paulo Guedes, de juro baixo e dólar alto, acabou motivando um movimento especulativo no Brasil, que agora é exacerbado pela onda de inquietação com os efeitos do coronavírus.
– Já estávamos em barca furada, porque o setor produtivo não se motivou a fazer investimentos com juro baixo, nem consegue exportar mais com câmbio alto porque falta confiança. O ministro fez isso na marra, incentivou a alta do dólar, aí veio o coronavírus e se somou a um quadro já existente aqui. Agora é irreversível. A gente se meteu nessa confusão e não dá para dar marcha à ré. Fala-se em novo corte de juro, mas para que serve reduzir mais a Selic se o pessoal não está tomando dinheiro para investir? Isso vai nos levar a estagnação – critica o especialista em câmbio.