No day after da maior queda em três décadas na bolsa de valores do Brasil e de desmaios em quase todos os mercados, o presidente Jair Bolsonaro usou a palavra "fantasia" para se referir à atual onda de crise global. Em Miami, onde se reuniu com empresários americanos e brasileiros, afirmou:
– Obviamente temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo.
É uma frase desalentadora no momento em que foi aberto o debate público sobre as medidas necessárias para amenizar o impacto das perdas provocadas pelas travas nas engrenagens da indústria global. De economistas de formação liberal, como Eduardo Gianetti da Fonseca e Mônica de Bolle, passando pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, já se acumulam pedidos para adoção de algum tipo de compensação às perdas que a epidemias de coronavírus já provocam na economia.
Enquanto Bolsonaro tenta negar o óbvio, sua referência de comportamento, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contribuiu para serenar os ânimos nesta terça-feira (10) de alívio temporário nos mercados. Fez questão de adiantar, em entrevista coletiva, alguma das medidas que enviará ao Congresso. Mencionou redução de impostos na folha de pagamento, ajuda financeira a doentes de Covid-19 que têm contratos de trabalho com remuneração por hora e incentivos ao turismo, um dos segmentos mais afetados por cancelamentos e reduções de viagens.
– Não podemos deixar que ninguém vá trabalhar doente ou corra o risco de perder o emprego – afirmou Trump.
O Brasil tem um mau retrospecto relativamente recente de medidas anticíclicas – estímulo ao crescimento no momento de fase de baixa da economia. Em 2008, o governo Lula se esforçou para "transformar tsunami em marolinha", como disse à época. Só conseguiu adiar e agravar o tsunami, que devastou o Brasil entre 2015 e 2016.
Entre o intervencionismo com agenda política e a negação de uma crise cada vez mais desenhada, há espaço para buscar respostas possíveis, diante do aperto fiscal do país nesse momento, e responsáveis. Se até agora não deu tempo, seria bom que Bolsonaro acompanhasse – e, na medida do possível, copiasse – as iniciativas de Trump.