Não foi por acaso que o governo Bolsonaro anunciou, em pleno Fórum Econômico Mundial, a criação do Conselho da Amazônia e da Força Nacional Ambiental. O anúncio feito em redes sociais, no final da tarde de terça-feira (21), é uma forma de preencher o branco da agenda ambiental brasileira. O espaço e a importância que os temas ecológicos ganharam em Davos foram o arremate do cenário em que o Brasil ficaria isolado e com menor acesso a investimentos internacionais caso insistisse em desprezar o risco dos danos à natureza.
Teria sido melhor ensaiar o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, para evitar gafes contraproducentes como dizer que "as pessoas destroem o meio ambiente porque precisam comer". Mas para um governo acusado de desmontar a estrutura de fiscalização e legislação ambiental, a iniciativa é um alento.
Se for um dos recuos autênticos de Bolsonaro, terão prevalecido a racionalidade e o pragmatismo. Como o anúncio da criação do Conselho da Amazônia veio acompanhado da indicação do vice-presidente, Hamilton Mourão, para coordenar a estrutura, sobrancelhas se levantaram.
A relação entre o presidente e Mourão é tumultuada e passou os últimos meses na geladeira. O motivo da desconfiança sobre os novos órgãos é se seu destino não será o mesmo do vice-presidente. Mas o general voltou até a dar entrevistas e prometeu que terá "iniciativas andando" até março. Terá de provar que foi descongelado, não que conservará a estrutura sob temperaturas negativas.
Não faltam razões objetivas para que ambos ganhem temperatura. A coluna já relacionou algumas:
1. Na virada do ano, a TrendWatching publicou sua previsão de que, neste ano, o consumo ecológico vai deixar de ser motivo de diferenciação para se tornar motivo de vexame para os que não aderirem.
2. A BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, com quase US$ 7 trilhões em ativos, orienta seus clientes a não investir e até mesmo sair de negócios não sustentáveis.
3. O relatório de riscos do fórum apontou, pela primeira vez em 10 anos, consequências da mudança climática como as cinco maiores preocupações dos líderes em termos de probabilidade (clima extremo, fracasso na ação climática, desastres naturais, perda de biodiversidade e desastres ambientais provocados pelo homem.
4. O Bank of International Settlements (BIS, chamado de banco central dos bancos centrais) advertiu para "cisnes verdes", riscos decorrentes da mudança climática, que teriam impacto maior do que crises financeiras.