Bastou o anúncio de que a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia sido autorizada pelo juiz Danilo Pereira Júnior, da 12ª Vara Federal de Curitiba, para mensagens pipocarem nos celulares de operadores e analistas do mercado. Faltava pouco mais de
meia hora para o mercado de câmbio fechar, e o dólar já subia 1,4%, para R$ 4,1499.
Poucos minutos depois, já havia subido para mais de R$ 4,16. Fechou às 17h, na máxima
do dia, em R$ 4,168.
A bolsa, que desde a última segunda-feira funciona até as 18h, fez o movimento inverso (veja na reprodução acima). Embora já estivesse em terreno negativo, acentuou drasticamente a queda, que chegou a passar de 2%, mas depois se moderou, para fechar em 1,78%.
Até a libertação, o motivo dos temores do mercado combinava a decepção com o leilão do pré-sal à preocupação com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) da véspera, de que brasileiros só podem ser presos depois do trânsito em julgado,
ou seja, sem possibilidade de recursos. Era a senha para a libertação de Lula, entre outros investigados na Operação Lava-Jato. A principal preocupação de investidores e especuladores é de que livre, Lula radicalize o clima político já conflituado no Brasil.
– Isso (a libertação de Lula) pode atrapalhar em parte a agenda de reformas, porque o presidente Bolsonaro está politicamente frágil e praticamente sem partido – avaliou o economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito, observando que há temor de radicalização ainda maior no clima político.
– O mercado sempre reage negativamente quando aumenta o grau de incertezas. A libertação de Lula, no mínimo, vai servir para reorganizar a esquerda, que tem uma pauta econômica diferente e totalmente equivocada – completou Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra.
Até a reativação das caravanas pelo país, confirmada depois pelo próprio Lula em discurso feito em frente à Polícia Federal, em Curitiba (PR), foi antecipada por analistas. No entanto, a respeitada consultoria política internacional Eurasia emitiu nota afirmando que a saída de Lula da prisão teria "baixa repercussão nas reformas".
A reação contrastou com a frieza com que o mercado havia reagido à prisão de Lula, em 5 de abril de 2018. Na época, analistas consideravam que Lula era "carta fora do baralho", ao menos da sucessão presidencial.
Depois da frustração com o megaleilão e de apenas uma oferta na licitação bilionária do dia seguinte de áreas do pré-sal, o dólar já havia ensaiado uma alta nos dias anteriores. Como havia expectativa de uma grande entrada de divisas no Brasil caso empresas estrangeiras arrematassem alguns dos blocos, porque os valores dos pagamentos necessários, chamados de bônus de assinatura, eram elevados. Como só a Petrobras fez ofertas, com participações minoritárias de sócios chineses, a entrada de capital estrangeiro, decorrente da parte das petroleiras estatais chinesas, é estimada em magros US$ 2 bilhões.