Nas últimas semanas, foram apontados ao menos quatro potenciais interessados na compra da Oi, operadora de telefonia que tem como uma das origens a antiga CRT. Diante de dificuldades relacionadas ao maior pedido de recuperação judicial (RJ) da história do Brasil, que na época somou R$ 64 bilhões em dívidas, surgiram como candidatas a gigante americana AT&T, a espanhola Telefónica, a mexicana America Móvil (dona da Claro), e a italiana TIM. Seria a "solução de mercado" apontada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para descartar intervenção na empresa, crucial por ser grande provedoras de infraestrutura do setor.
Na terça-feira, o atual presidente da Oi, Eurico Teles, estará em Porto Alegre para falar sobre o futuro da companhia aos funcionários do Rio Grande do Sul. Vem com o novo diretor de operações (COO, no jargão corporativo), Rodrigo Abreu, autorizado a ocupar o cargo por decisão judicial originada de disputa entre a diretoria executiva e o conselho de administração. Sem prazo definido, Abreu deve substituir Teles. Com 57 milhões de clientes no Brasil e 3,7 milhões no Estado, a Oi sustenta que vai cumprir todas as obrigações da RJ sem sustos.
Existe dificuldade de caixa na Oi, como foi cogitado diante dos resultados financeiros do segundo trimestre?
A companhia tem nível de caixa suficiente para manter sua sustentabilidade operacional e cumprir os pagamentos acordados no plano de recuperação judicial. Paralelamente, está focada na execução do plano estratégico de transformação, que vem sendo liderado pelo COO (diretor de operações), Rodrigo Abreu, para garantir a sustentabilidade de curto, médio e longo prazos. O centro da estratégia de investimentos é a aceleração dos projetos de fibra óptica, que possibilitam crescimento das operações de banda larga residencial, e sustentam a atividade no mercado B2B (entre empresas), no atacado e em telefonia móvel. Com a aceleração desses projetos, poderemos até superar o valor previsto no plano de investimentos deste ano e chegar a R$ 7,5 bilhões. Prevemos manutenção desse nível para 2020. Temos confiança na estratégia de venda de ativos não-essenciais e captação de recursos adicionais, além do foco na eficiência operacional, que podem garantir recursos suficientes para financiar o plano.
A cada semana, surge novo suposto comprador para a Oi. É a única saída para a empresa?Como disse, o foco está na execução do plano estratégico de transformação, caminho estratégico de crescimento com várias possibilidades de geração de valor no longo prazo.
A Oi é a empresa de maior presença nacional, e a única que chega a todos os Estados e a mais de 5 mil municípios no país. Dessa maneira, é natural sua vocação para ser uma das grandes responsáveis pela infraestrutura que vai permitir ao Brasil entrar de fato na economia digital.
A Oi vem cumprindo rigorosamente as obrigações previstas no plano, dentro do cronograma.
Como evoluiu, até agora, o acordo de recuperação judicial da companhia?
A Oi vem cumprindo rigorosamente as obrigações previstas no plano, dentro do cronograma. A companhia entrou em recuperação judicial, negociou a dívida com os credores sem deixar de prestar serviços, investir em qualidade e atender as demandas do mercado, e o fez até aqui de maneira extremamente bem-sucedida. Hoje, vem cumprindo todos os ritos do processo, tem nível de caixa suficiente para manter sua sustentabilidade operacional e cumprir os pagamentos acordados.
Como recebeu a decisão de nomear um COO que deve substitui-lo no médio prazo?
Minha preocupação é ajudar a garantir a sustentabilidade futura da companhia e estou trabalhando para isso. Tenho uma missão a cumprir, no sentido de trabalhar para deixar a companhia sustentável. O plano de RJ que foi aprovado vai na direção da sustentabilidade da empresa, e Rodrigo Abreu tem meu total apoio para implementá-lo.
O patamar de R$ 7 bilhões de investimentos ao ano, focado em fibra (óptica), é o pilar central da estratégia de futuro.
O que a empresa faz para não ficar defasada, em meio às dificuldades, operando em mercado tão desafiador tecnologicamente?
O patamar de R$ 7 bilhões de investimentos ao ano, focado em fibra (óptica), é o pilar central da estratégia de futuro. Inclui ações em várias frentes, como a da transformação digital, a contínua revisão e otimização de processos e a readequação do operacional em áreas que representam o futuro da Oi. Temos investido também no mercado B2B, onde nos consolidamos como provedora e integradora de soluções digitais. Temos também um hub de inovação e empreendedorismo, o Oito, que fomenta pensamento de startup, motivando a visão de futuro.
O fato de uma das bases da Oi ser a antiga CRT implica desempenho diferente no Estado?
Nos últimos quatro anos, investimos cerca de R$ 1,2 bilhão. Somente no primeiro semestre, foram mais de R$ 304 milhões, crescimento de 62% em relação ao mesmo período de 2018. Temos acelerado projetos de fibra óptica, já disponível em Porto Alegre, Alvorada, Canoas, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, São Leopoldo e Viamão. Na rede móvel, levamos a tecnologia 4.5 G a Porto Alegre. E no segmento de TV por assinatura, somos a única operadora a crescer, além de sermos líderes em banda larga e telefonia fixa no Estado. No segmento corporativo, atendemos as principais empresas privadas e públicas como provedora de soluções digitais. No Rio Grande do Sul, aumentamos em 29% a receita de TI no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
É importante dizer que (a mudança) não foi feita para ajudar a companhia A ou B, mas para modernizar o setor e estimular investimentos em uma indústria com ritmo acelerado de evolução tecnológica e demanda de mercado.
Até que ponto as mudanças de regras recentemente aprovadas beneficiam a Oi?
A Lei Geral de Telecomunicações era excelente, e muito adequada ao momento da privatização das telecomunicações. Passados 20 anos, tornou-se não apenas obsoleta, mas um impedimento ao desenvolvimento para todas as empresas, ao não evoluir em temas importantes como bens reversíveis de telefonia fixa, obrigações anacrônicas, serviços desatualizados tecnologicamente, entre outros problemas. A nova lei, aprovada com o projeto de lei complementar 79, é importante para todo o setor, não apenas para a Oi. É importante dizer que (a mudança) não foi feita para ajudar a companhia A ou B, mas para modernizar o setor e estimular investimentos em uma indústria com ritmo acelerado de evolução tecnológica e demanda de mercado.
Na sua avaliação, qual foi o peso da legislação nas dificuldades da Oi?
A regulamentação obsoleta atrapalha e desestimula investimentos no setor. Não afeta apenas a Oi , mas todas as operadoras de telecomunicações. No caso da Oi, como concessionária, havia uma série de obrigações que não refletiam mais as demandas da sociedade, como era o caso dos orelhões, que representavam custos adicionais para a companhia. Mas essa página está virada.
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