Está nas mãos de um gaúcho uma das missões mais delicadas do universo corporativo brasileiro: conduzir o maior processo de recuperação judicial da história do país. Marco Schroeder, formado em Economia pela UFRGS, completa neste mês um ano à frente da Oi, que embutiu dívida de R$ 63,96 bilhões no mecanismo de proteção contra credores. Embora o valor citado seja de R$ 64,5 bilhões, Schroeder explica que houve "correções" nas pendências.
O tamanho da encrenca
"Completo um ano como presidente, e, no dia 20 de junho, faz um ano que a Oi entrou em recuperação judicial. É preciso reestruturar R$ 63,96 bilhões. Os acionistas querem ter fatia maior do controle, os credores querem pedaço da empresa em troca de desconto e alongamento do prazo. A Oi já ofereceu entregar 38%. É um problema complexo, mas não representa 1% da atividade. Temos 120 mil pessoas trabalhando. No ano passado, aumentamos o investimento em 18%, para R$ 4,7 bilhões. A qualidade melhorou. No primeiro trimestre, as reclamações para a Anatel caíram 28% em relação ao mesmo período de 2016."
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O processo de decisão
"O controle é pulverizado, não temos figura de dono. Em 2016, foram R$ 6,7 bilhões de ebitda (geração de caixa). Investimos R$ 4,7 bilhões, sobraram R$ 2 bilhões. Se reduzirmos a dívida em 70%, como propomos, torna-se equacionável. Os motivos que levaram a essa dívida envolvem a macroeconomia, o juro ter ido para 15% ao ano, a regulação da telecom ter 20 anos e precisar de ajustes. É questão trabalhosa, mas seria boa para mim e para o país."
O risco de intervenção
"A rede da Oi é muito importante para o sistema. Em alguns Estados e em algumas cidades, só nós estamos presentes. É uma rede de tráfego da qual depende, por exemplo, o Rio Grande do Sul. O país não pode prescindir da Oi. Em um cenário extremo, em que o serviço estivesse deteriorado, a Anatel teria o direito e até o dever de intervir. Mas esse é um caso hipotético. Se acionistas e credores não se entenderem, impedirem o acordo, a Anatel terá de intervir. Precisa-se de bom senso."
A recuperação judicial
"Tem muitos holofotes sobre a empresa. Tenho tratado com transparência com todos os envolvidos, BNDES, Itaú, os bondholders (detentores de títulos da companhia). Do total da dívida, R$ 50 bilhões são de investidores financeiros, bancos e bondholders. A rotina da parte operacional independe desse processo. Faço os dois papéis, renegocio a dívida e toco a operação. Na última terça-feira, tivemos reunião de diretoria e não discutimos a recuperação judicial. Falamos sobre quando vamos lançar produtos no Sul, como estão as lojas. Não temos uma recuperação judicial tradicional, porque geramos caixa. Não é o suficiente para pagar uma dívida desse tamanho, mas é uma empresa rentável."
O futuro
"Tem investidores querendo botar dinheiro na Oi, dos quais o mais conhecido é o egípcio (o bilionário Naguib Sawiris). Vamos avançar para a convergência dos produtos, a Oi Total – TV, fixo, banda larga. Não olhamos um horizonte muito longo, de cinco anos, pensamos no próximo ano. Os serviços não continuaram iguais, melhoraram. Se a qualquer momento tivesse havido paralisia, problema de serviço, a gente teria morrido. Temos de ser melhores do que éramos em momento de crise. Respondo a conselho de administração com 11 membros, representantes de alguns dos principais acionistas, como BNDES, Nelson Tanure, portugueses da Pharol. Não existe alternativa senão equacionar a dívida. É importante para a empresa, os clientes e o país. Outro cenário seria a falência, sem valor para ninguém."