Até líderes pragmáticos do agronegócio, como o presidente do Instituto da Confederação Nacional da Agropecuária, Roberto Brandt, inquietam-se com a imagem que o Brasil projeta no Exterior sobre a Amazônia e o uso de dados científicos. Em entrevista à revista Época, Brandt, que já foi ministro da Previdência no governo Fernando Henrique Cardoso, afirmou:
– Como a questão do meio ambiente é muito sensível, acaba nos deixando vulneráveis, já que todo o mundo está preocupado com questões de aquecimento global e sustentabilidade ambiental. Além disso, outros mercados têm interesses competitivos em relação ao Brasil e podem explorar essas dúvidas. É preciso muito cuidado para não afetar a credibilidade.
A dúvida sobre a extensão do desmatamento, acentuada pela exoneração de Ricardo Galvão do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já fez a Alemanha cortar investimento em preservação. Mais uma vez, a reação do governo brasileiro foi debochada e desrespeitosa.
– O Brasil não precisa disso – disse o presidente Jair Bolsonaro neste Dia dos Pais.
Na antevéspera, havia visitado a escola da filha caçula, Laura. Fez discurso contra a “ideologia de gênero”, mas não se manifestou, até onde se sabe, sobre a questão ambiental. Em uma escola básica, seria um risco. Se há uma lição que as crianças brasileiras vêm ensinando a seus pais é a da consequência dos danos à natureza.
Em 2016, quando começou a espalhar restaurantes e contêineres Madero – e, depois, Jerônimo – pelo Estado, o chef Júnior Durski, fundador da bem-sucedida rede, foi sincero ao falar de sua origem à coluna. Filho de madeireiros do Paraná, ficou 12 anos cortando árvores na Amazônia. Mudou de ramo por vergonha, disse:
– Sempre fiz tudo para que minhas quatro filhas se orgulhassem de mim, e elas não tinham orgulho de dizer às amigas do colégio que o pai era madeireiro. Isso me matava. Vou parar com esse negócio aí, não quero mais.
O que as crianças nos ensinam – e a coluna espera que Laura explique a seu pai –, é que todos somos responsáveis pela marca que deixamos no planeta. Destinar de forma certa meu lixo é minha obrigação. E há pessoas com ainda mais deveres do que outras. Além da pessoal, têm a política e a histórica. Se envolvem a Amazônia, são imensas. E também correm risco de devastação.