No dia seguinte à aprovação da privatização de CEEE, CRM e Sulgás, os gaúchos acordaram pacificados com a ideia de vender patrimônio público (embora alguns casos sejam mais de passivo público). Há alguns anos, seria um day after renhido. Em boa parte, o crédito é do governo Sartori, que adotou transparência sobre a situação das contas do Estado e a exposição dos dados das empresas. Não foi suficiente, e coube a Eduardo Leite montar uma base de apoio sólida o suficiente para aprovar a saída do Estado das companhias com maioria folgada, ainda que ao custo de ter secretarias loteadas a partidos e sem muita relevância administrativa.
Ao mesmo tempo, ocorre no Estado uma privatização simbólica, a da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, sem muito mais oposição do que a do sindicato da categoria. E, desta vez, é venda de 100%, diferentemente do plano anterior em que a Petrobras mantinha uma fatia. Terá a privatização se tornado uma opção a mais para a maioria dos gaúchos e brasileiros?
Tudo indica que sim, parte por convicção, parte por efeito do cansaço com a crise permanente e sempre agravada nas contas públicas do Estado. Como Leite tem afirmado, de seu ponto de vista vender patrimônio público não é um objetivo em si, mas uma estratégia para tentar dar um passo na direção da saída. É importante observar que, sim, dado o retrospecto gaúcho, a aprovação é uma façanha. Mas o horizonte que abre é o de um passo. Nem de um salto pode se falar. Há muito por fazer antes de considerar a situação das finanças estaduais minimamente estável.
E se gaúchos e brasileiros já não reagem com horror a processos de privatização, há um caso curioso, que desafia o senso comum. No governo federal, para o qual vender patrimônio público é sim, um fim em si mesmo, a área oficial destinada à tarefa ainda guarda um incompreensível eufemismo: é a Secretaria Nacional de Desestatização. Privatizar não é o melhor sempre. Mas chamar as iniciativas por seu verdadeiro nome sempre é mais honesto.