O recente anúncio de que Alexandre Herchcovitch passará a assinar modelos da Azaleia voltou a chamar atenção sobre essa marca que teve auge nos anos 1980, mas andava discreta. Com produção concentrada no Nordeste, o grupo Vulcabras Azaleia tem 15 mil funcionários, 650 dos quais em Parobé, antiga sede da empresa comprada em 2007, que investiu quase R$ 200 milhões nos últimos dois anos, sob o comando de Pedro Bartelle.
De grife?
Alexandre Herchcovitch tem história com a Vulcabras Azaleia. Assinou os uniformes do Panamericano no Brasil de 2007. Depois, o convidei para ser head de estilo. Ele dá expediente em Parobé, toma chimarrão, come cuca. Queria o desafio de fazer produtos democráticos. Admito que o setor feminino estava prejudicado na empresa pelo grande sucesso das marcas esportivas, principalmente a Olympikus. Neste ano nos sentimos seguros para investir no produto e trazer o Alexandre para essa nova visão. A nossa missão é democratizar a moda.
Liderança
“Hoje, temos 650 pessoas em Parobé, e a maioria está na área de estratégia de coleção. A Azaleia foi fundada em 1956, adquirimos em 2007. Na época, o foco já não era a Azaleia, eram calçados esportivos de performance. Pensamos que o feminino pode voltar a ter importância que teve, mas não miramos a briga por liderança. Queremos recuperar o espaço que sempre teve. A liderança seria consequência.”
Investimento
“Desde 2017, investimos R$ 100 milhões em modernização, estamos completando agora. Em outubro passado, compramos a Under Armour, considerada a terceira maior marca do mundo em produtos esportivos, investimos mais R$ 97 milhões, com contrato de 10 anos para produzir a marca no Brasil. Vamos importar, mas a produção local será protagonista, o maior faturamento será de produção nacional.”
Under Armour
“A empresa foi fundada há apenas 20 anos em Baltimore, por um ex-atleta, Kevin Plant. Ele jogava futebol americano e reclamava que o suor retido na camiseta que usava sob a armadura (Under Armour) aumentava o peso em até 20 quilos. Desenvolveu tecidos tecnológicos e material esportivo de altíssima performance. Tentou manter a produção em Baltimore, mas teve de migrar para Portland (Oregon), espécie de Vale dos Sinos dos EUA, onde se concentra esse tipo de indústria.”
Inserção no RS
“Aqui, temos a inteligência do calçado e alguma produção de edições limitadas, mais manufaturada. Compramos palmilhas de terceiros, fornecedores fazem a dublagem (união de dois ou mais materiais na parte de cima do calçado, o cabedal) em rolos, depois cortam. Temos grandes fornecedores no Estado. No Nordeste, é mais a parte industrial de produção das solas e junção das peças. Em Jundiaí (SP), temos a área comercial.”
Cenário
“O Brasil está um pouquinho mais difícil neste ano. Se a gente tiver ajudinha do cenário econômico, está bastante pronto para crescer. Os grandes problemas ainda são a falta de previsibilidade e o fato de que tudo custa muito caro no Brasil. A indústria calçadista, que emprega muita gente, enxugou bastante. Agora, existe um risco, que é a retirada da salvaguarda dos produtos chineses. Sou completamente contra. Temos um problema que não é nosso. Na China, há controle do câmbio, mantido artificialmente estável, e o custo de um funcionário asiático é muito menor. Agora, não só da China, mas do Vietnã, da Indonésia. Se tirar a barreira, vamos ter muitos problemas. O Brasil é um país pobre, vou muito ao interior do Ceará, onde temos fábricas, e vejo que não há nada pior do que não ter emprego. E nós temos 15 mil empregos diretos.”