O Rio Grande do Sul está no centro da nova estratégia da Vulcabras Azaleia. Após profunda reestruturação que culminou com a reconquista do posto de líder na venda de tênis no país, a companhia quer agora recuperar terreno nos calçados femininos. Para acelerar o passo, criou neste ano uma unidade de negócios separada para as marcas Azaleia e Dijean.
Localizada em Parobé, no Vale do Paranhana, a divisão passou a contar com equipe específica no centro de pesquisa e desenvolvimento da empresa, que se concentra nas tarefas de inteligência comercial, tecnologia e design.
– A Azaleia já vendeu mais de cinco vezes acima do que hoje – conta o presidente da empresa, Pedro Bartelle, desde 2015 no cargo.
O novo foco fez ainda a companhia, depois de seis anos, voltar a produzir em Parobé, embora em pequena escala. Em um episódio cercado de polêmica, a empresa encerrou as atividade fabris em 2011 na cidade, demitindo cerca de 800 pessoas. Agora, foi montada uma espécie de minifábrica de produtos especiais, onde são confeccionados calçados – principalmente, Azaleia – de alto valor agregado, que podem custar até R$ 500 o par, vendidos em pontos frequentados pela clientela de maior poder aquisitivo de São Paulo.
Com a nova estratégia, cresceu o centro de pesquisa e desenvolvimento da Vulcabras Azaleia em Parobé, que a empresa diz ser o maior da indústria calçadista na América Latina. Eram 880 pessoas no início do ano e, agora, são 950. Um terço do contingente está dedicado à nova unidade de femininos, debruçada na tarefa de rejuvenescer a marca e acelerar o lançamento de coleções – o ritmo chegou a oito por ano.
– As fábricas foram para o Nordeste, mas a inteligência do calçado ficou aqui, onde também estão os maiores salários – diz Bartelle.
Nos modelos esportivos, a companhia recuperou, no ano passado, a liderança com a marca Olympikus, de acordo com a consultoria Kantar. O segmento é responsável por quase 80% do faturamento.
A empresa é controlada pelo pai de Pedro, o empresário Pedro Bartelle Grendene, que também é sócio minoritário do irmão Alexandre na Grendene, outra gigante do setor no país. Em 2007, a Vulcabras comprou a Azaleia das famílias De Paula e Volkart e, com isso, passou a ser dona também da marca Olympikus. Antes, dedicava-se principalmente a fabricar os tênis Reebok e a vender os sapatos 752.
Bartelle admite que, no início da década, a empresa mergulhou em uma crise, acumulando prejuízos. O Brasil sediaria Copa do Mundo e Olimpíada, e as maiores marcas internacionais de tênis inundavam o país com grandes volumes e promoções. Em 2011, quando fechou a fábrica em Parobé, tinha 39 mil funcionários no Brasil. Hoje, são 15 mil. Foi necessário encolher para voltar à expansão.
– Nos preparamos para crescer, mas o importado nos derrubou – resume.
Mais atenção à gestão de marcas e reconfiguração das fábricas para dar mais agilidade na entrega dos pedidos foram algumas das mudanças. Com isso, a empresa voltou a ser lucrativa no ano passado.
Em 2016, o lucro foi de R$ 35,69 milhões e, em 2017, até setembro, R$ 143,5 milhões.
Raio-X
A empresa tem sete unidades e seis marcas
Marcas: Olympikus, Azaleia, Dijean, Opanka, OLK e Botas Vulcabras
Funcionários: 15 mil distribuídos em cinco unidades no Brasil, uma na Colômbia e uma no Peru
Fábricas: Horizonte (CE), Itapetinga (BA) e Frei Paulo (SE)
Vendas: cerca de 23 milhões de pares de calçados e peças de vestuário (2016)
Mercados: atende a mais de 30 países, chegando a 15 mil pontos de venda no Brasil e 3 mil no Exterior
Lojas próprias da marca Azaleia: 70 unidades no Chile, na Colômbia e no Peru
Investimentos
A reestruturação dos negócios culminou com a captação de R$ 686,45 milhões no mês passado, com uma oferta de ações. Grande parte da quantia foi usada para abater dívidas. Cerca de R$ 100 milhões serão utilizados para modernizar as fábricas localizadas na Bahia, no Ceará e em Sergipe.
Mercado interno do país derrapa
Ainda sentindo os efeitos da recessão, o setor calçadista deve fechar o ano com crescimento nominal no faturamento de 3%, projeta o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Ou seja, descontada a inflação, o resultado foi um zero a zero. O desempenho já era esperado pelo setor. A expectativa é de que o próximo ano seja melhor.
– Para 2018, imaginamos que, a partir do segundo semestre, teremos uma recuperação mais acentuada – afirma Klein.
A esperança é de que a demanda reaja com a queda do desemprego e o aumento da renda, embora a instabilidade política continue pairando como um risco, pondera o dirigente. Bartelle tem percepção semelhante sobre 2017. A melhora no mercado, concorda, foi tímida.
As exportações brasileiras mostram um crescimento um pouco maior. De janeiro a novembro, foram US$ 973,5 milhões, alta de 11,9%. No Estado, líder nas vendas para o Exterior em receita, o aumento foi de 6,3%, para US$ 406,8 milhões.
Com isso, o emprego tem saldo positivo no acumulado do ano. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, foram criadas 13,3 mil vagas no país neste ano na indústria calçadista, até outubro.