A discussão sobre o "fim do dinheiro" (em espécie) está começando no Brasil, mas faz pensar: quando foi a última vez em que você pagou uma compra com cédulas ou moedas?
Em muitas lojas, já é mais exceção do que regra, mesmo no país em que essa tendência não está tão acentuada como na Suécia, onde vendedores ambulantes sem-teto têm máquinas de cartão de crédito e contribuições a congregações religiosas são feitas por mensagem de texto. Há menos de um mês, duas empresas gaúchas fizeram a primeira experiência no Brasil de pagamento 100% via WhatsApp.
Como na física, não há ação sem reação: na semana passada, a Filadélfia se tornou a primeira cidade dos Estados Unidos a proibir estabelecimentos comerciais – incluindo restaurantes e lanchonetes – de operar sem qualquer possibilidade de pagamento com dinheiro vivo. Aprovada na semana passada para ser aplicada a partir
de julho, a regra invoca a necessidade de dar "acesso democrático ao mercado", especialmente a consumidores de baixa renda.
Um dos argumentos dos comerciantes para deixar de aceitar pagamento em espécie faz muito sentido no Brasil: segurança. Os estabelecimentos deixam de ser alvos de assaltos e se expõem a menos riscos transportando altas somas até o banco. O outro é mais discutível: ponderam que outras modalidades, como cartão de crédito, celular, relógios (smartwatchs) ou pulseiras eletrônicas, aumentam a eficiência dos funcionários, que não precisam contar bilhetes e fazer troco. A discussão ainda passa pela questão da privacidade, porque o pagamento em dinheiro permite anonimato.
Entre as justificativas da prefeitura da cidade para confirmar a medida, está o fato de
26% dos moradores viverem abaixo da linha da pobreza, muitos dos quais não têm cartão
de crédito ou conta em banco. Não se trata de uma região pobre: a Filadélfia é uma cidade histórica americana que, com cerca de 1,5 milhão de habitantes, é a segunda maior da
Costa Leste dos EUA, atrás apenas de Nova York, que fica a apenas 150 quilômetros de distância. Existe a possibilidade de carregar dólares em cartões de débito pré-pagos,
mas é preciso pagar taxas.
No país do cartão de crédito, a discussão já pegou fogo: embora a Filadélfia seja a primeira cidade, a proibição da venda sem dinheiro foi proposta em Nova York, por um vereador do Bronx (bairro de menor renda), Richie Torres, o Estado de Massachusetts (onde ficam Boston e as prestigiadas universidades de Harvard e MIT) já exige que varejistas aceitem cédulas e moedas e Nova Jersey (ao lado de Nova York) aprovou o fim de lojas sem dinheiro (cashless), mas a regra ainda não está valendo.