Anunciada na terça-feira (26), a venda da rede Onofre pela gigante americana CVS desafia o senso comum de que farmácias são um grande negócio no Brasil. A CVS tem quase 10 mil pontos de venda e um faturamento próximo de US$ 185 bilhões. Em fevereiro de 2013, quando entrou no país com a compra da Onofre, houve inquietação com o que parecia o início de um movimento de consolidação que representaria dominação estrangeira e predomínio do modelo de drugstores americanas.
Seis anos depois, a CVS repassou o ponto por um valor simbólico, conforme comunicado feito pela Drogasil à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No fato relevante em que confirmou a compra, a Drogasil informa que “o preço de compra das quotas da Onofre é imaterial” e que “não espera, com bases nas suas estimativas, realizar qualquer desembolso financeiro”. Alexandre van Beeck, sócio-diretor da GS&Consult, explica que a saída envolve desde questões fiscais até logísticas. Van Beeck ainda aponta o alto grau de competição nos Estados Unidos, onde a CVS deve concentrar as energias.
– A Onofre foi uma forma que eles encontraram para entrar e tentar entender o mercado no Brasil, mas aqui não é fácil de atuar. Ao ver a complexidade, eles devem ter entendido que é melhor focar no mercado americano. O Brasil foi o primeiro país fora dos EUA que eles testaram - explica.
No mercado, a interpretação é de que a Drogasil não vai pagar pela compra porque absorverá prejuízo elevado. Analistas observam que a poderosa CVS “cansou de perder dinheiro no Brasil”. Quem vê o ritmo de expansão de redes locais, como Panvel e São João, fica intrigado com o mau desempenho em um bom negócio.
Van Beeck ainda pondera que a Drogasil viu oportunidade de expansão em vendas online ao adquirir a Onofre, pelo fato da americana ter grande experiência no e-commerce. O executivo reitera que mercado farmacêutico segue muito próspero no Brasil. Vê a saída da CVS como “normal”:
– Há vários indícios de que o segmento seguirá crescendo, em nível regional ou nacional. Temos vários exemplos nesse sentido, como Panvel e a própria Drogasil.
Outro colosso americano, o Walmart, foi-se embora com perdas em supermercados. No passado recente, bancos estrangeiros que testaram sua força no país se retiraram. O Brasil, de fato, não é para amadores. Até em negócios nos quais não se entende como é possível perder dinheiro.