Se era um teste, o Brasil passou. A nota pode não ter sido tão alta como o tamanho dos ágios – o máximo foi de 4.379%, no bloco Centro-Oeste –, mas o resultado da oferta de concessão de aeroportos feita na sexta-feira mostrou que os estrangeiros têm, sim, apetite para investir no Brasil. Havia dúvidas, inclusive no governo. O próprio Jair Bolsonaro reclamara, há cerca de 10 dias, que sua imagem nos meios de comunicação do Exterior era de “racista, homofóbico e ditador”.
Segundo o presidente, mudar essa percepção era tarefa dos embaixadores, que não estavam fazendo um bom trabalho – logo em seguida, veio uma longa lista de substituição de diplomatas. Grandes grupos estrangeiros disputaram pista a pista três pacotes de terminais aéreos.
Um dos motivos dos ágios gigantescos foi o preço mínimo muito baixo. Mas mesmo descontado esse fator, empresas como a espanhola Aena, que administra o aeroporto de Barajas, em Madri, e a Zurich, que já opera em Florianópolis e Belo Horizonte (Confins).
A Fraport, que havia conquistado em março de 2017 as concessões do Salgado Filho, em Porto Alegre, e de Pinto Martins, em Fortaleza, chegou a se habilitar para a disputa dos terminais de Vitória e Macaé, que integravam o pacote do Sudeste, mas destitui na fase de envelopes, antes que o desempate chegasse à etapa de viva-voz, em que o leilão é mais disputado. Assim, a suíça Zurich se tornou a estrangeira com maior número de terminais sob seu guarda-chuva no Brasil.
E aumentou sua aposta mesmo depois de enfrentar problemas, tanto em Florianópolis quanto em Confins, a maior estrutura pela qual é responsável. É um estrangeiro que aceita elevar o “risco Brasil”.
A Aena desmontou outro temor dos especialistas, o risco da conversão em reais: anunciou que está disposta a aplicar recursos próprios no país, ou seja, a internalizar recursos. O primeiro leilão do governo Bolsonaro ainda deve resultados à modelagem da gestão Temer. Mas dá pistas à equipe de Paulo Guedes de como tirar o papel o ambicioso plano de vender até R$ 1 trilhão em estatais.
