Se fosse contada em um filme, a história que assombrou o mercado financeiro global nesta quinta-feira (6) seria considerada inverossímil. No sábado, autoridades canadenses prenderam Meng Wanzhou, diretora financeira e filha do dono da chinesa Huawei, maior fabricante de smartphones do mundo. A acusação foi de ter violado as sanções internacionais contra o Irã. Embora tenha ocorrido no sábado, a prisão só foi revelada na noite de quarta-feira, manhã de quinta na China. Quando a informação chegou ao mercado financeiro, foi como se a muralha da China tivesse caído.
Feita em nome do governo dos Estados Unidos, para onde a executiva deve ser extraditada, a detenção foi encarada como um degrau perigoso no conflito comercial com a China. Até a expressão “guerra fria” foi usada por analistas para descrever o futuro das duas maiores economias do planeta.
Meng é filha de Ren Zhengfei, fundador da empresa que, atualmente, é vista pelo governo chinês como um negócio de alta prioridade. O Ministério de Relações Exteriores da China exigiu a libertação “imediata” da executiva, com pedido de que “salvaguardem seriamente os direitos e interesses legais e legítimos dessa pessoa”.
Na Europa, as bolsas fecharam com quedas superiores a 3%, típicas de períodos de intensa crise. Nos EUA, o principal mercado de derivativos (títulos que derivam de ativos mais tradicionais, como ações) chegou a acionar o circuit breaker, instrumento que interrompe negociações em surtos de pânico do mercado. Em parte, a estratégia funcionou. A bolsa de Nova York fechou em baixa de 0,38%, moderada perto das europeias. No Brasil, o dólar chegou a ser cotado a R$ 3,94 no início da tarde, mas moderou a alta para fechar em R$ 3,875.
A bolsa brasileira chegou a estar negativa em mais de 2%, mas também fechou em baixa mais suave, de apenas 0,22%. Para reforçar o ar improvável do enredo, é bom saber que a Huawei está proibida de fazer negócios nos EUA desde 2012, por ter sido considerada “ameaça à segurança nacional”. A acusação é de que seus celulares estariam sendo usados como instrumento da espionagem chinesa no país. Se a muralha da China não caiu, o barulho provocado pelo episódio é o do desmoronamento da frágil trégua declaradas pelos presidentes Donald Trump e Xi Jinping no sábado passado em Buenos Aires. Será preciso esperar a dissipação da poeira levantada para enxergar o futuro.