Enquanto os gaúchos discutiam a privatização de CEEE, Sulgás e CRM, o governo federal e o estadual se batiam em torno do Banrisul. A explicitação da secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, de que sem a inclusão do banco gaúcho não haveria adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal (RFF), escancara a falta de transparência no processo, tanto do Piratini quanto do Planalto. Desde janeiro de 2017, sabia-se que havia pressão pela venda do banco – um dos três que o Estado mantém, é bom lembrar, com Badesul e BRDE.
Em Brasília, os técnicos cercaram o assunto de segredo e nunca foram suficientemente claros. Indicavam que as três estatais apresentadas não alcançavam o valor total das garantias, mas evitaram dizer, com todas as letras, o que Ana Paula disse nesta quarta-feira (28). Se tivessem feito isso antes, permitiriam à sociedade gaúcha debater o assunto com mais maturidade e realismo. Da forma como o tema foi proposto, prevaleceu a impressão – equivocada, sabe-se agora – de que a adesão ao RFF seria mais barata do que realmente era.
As ações do Banrisul subiram quase 5%, levando o valor de mercado do banco para perto de R$ 10 bilhões. Uma das queixas do atual governo é a de que os técnicos da Fazenda federal subavaliam a instituição. É um protesto procedente. Em caso de privatização, haveria um prêmio sobre esse montante, difícil de precisar porque depende desde o momento da venda até o tamanho do interesse de potenciais compradores. Como o Estado tem hoje metade do capital total (49,89%), seriam ao menos R$ 5 bilhões, não os R$ 4 bilhões que entram nas contas do Tesouro.
A disposição do governador eleito Eduardo Leite é de não privatizar o Banrisul.
– Continuo confiando na solução para adesão ao RRF sem a venda do banco – disse à coluna.
Um interlocutor qualificado de Leite avalia que a inclinação é genuína – ao menos por enquanto –, e que tentativas de extrair recursos da instituição devem começar pela venda da divisão de cartões, como o governo Sartori chegou a ensaiar, mas encerrou melancolicamente "encolhendo" o Banrisul em R$ 353,3 milhões. É o que Leite admite tentar fazer ao reclamar da operação.