Depois da publicação da entrevista de Winston Ling sobre sua atuação na aproximação entre Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, leitores ficaram em dúvida sobre a origem do empresário, outros pediram mais conteúdo. Aqui, a coluna explica o contexto e avança nos negócios do gaúcho na China. Winston é filho de Sheun Ming Ling, chinês que fugiu do comunismo na China e foi pioneiro da soja no Brasil. Quando Sheun chegou em Santa Rosa, noroeste do Estado, no início da década de 50, quase não havia soja no Brasil. Santa Rosa passou a ser conhecida como o berço do cultivo.
Winston nasceu lá. A família ajudou a criar uma empresa, a Olvebra, para fazer, décadas atrás, o que se quer hoje: beneficiar a soja no Brasil, em vez de exportar o grão. Depois, a família dos outros sócios ficou com esse negócio, e os Ling fundaram a Petropar, uma das pioneiras no polo petroquímico gaúcho, que gerou a Fitesa, produtora de matéria-prima para produtos descartáveis considerada a mais internacionalizada do Brasil. Winston não participa da gestão dos negócios locais, mas investe em startups – inclusive gaúchas, a partir da China.
China, polo de inovação
"Talvez seja explicado pela grande mudança que houve de sair do comunismo para o capitalismo de repente. Foram direto para o celular. A maioria das pessoas nem teve telefone fixo. Qualquer novidade que aparece, eles querem experimentar, serem os primeiros. É uma massa crítica enorme de gente querendo experimentar. Isso ajuda na inovação".
Cultura x incentivo
"O sucesso das empresas inovadoras na China não ocorreu por causa do governo. Tem um livro chamado Como a China Se Tornou Capitalista, de Ronald Coase, professor na Universidade de Chicago. Ele morreu com mais de 100 anos, foi o último livro que escreveu, uma análise de como a China se tornou rica em tão pouco tempo. No plano quinquenal, o Estado focava nas grandes estatais. Na periferia, tinha um monte de microempresas, mas não importava. Muitas viraram pequenas empresas, outras médias, outras grandes. Deixaram a periferia solta, livre, sem controle, sem regulamento. Esse é o diagnóstico de Ronald Coase".
Investidor em startups
"A Wintech Ventures é a empresa por meio da qual faço investimentos em startups, mas não fiz nenhum investimento em negócios chineses. A maioria foi na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. Tenho investido mais na área financeira, em fintechs. Tem muita ineficiência nessa área, e essas tecnologias novas estão trazendo muita coisa diferente. Outra área pela qual que me interesso também é educação, mas ainda não achei onde investir".
Interesse no RS
"Tem uma startup em que estou investindo no Rio Grande do Sul, mas ainda não entrou em operação. É um pouco burocrático. Queríamos entrar em operação em maio, mas um monte de coisa atrasou. Espero que nos próximos um ou dois meses a gente possa começar a operar. Chama-se Dollar Easy. É um app que vai ajudar a transferir dinheiro da sua conta do Brasil para a sua conta no Exterior. Por incrível que pareça, da sua conta para a sua conta é burocrático, custa e leva tempo. A gente quer fazer em um clique".