No dia seguinte à eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República, o mercado financeiro começou o dia com ânimo cauteloso, contrastando com dias de euforia quase irracional que marcaram o chamado "rali Bolsonaro". O dólar chegou a cair, com alta na bolsa mas no início da tarde os dois ativos inverteram a mão. A moeda americana passou a subir, atingindo R$ 3,673, e a bolsa passou a declinar levemente, com baixa de 0,6%.
No início da manhã, a moeda americana chegou a ser negociada abaixo de R$ 3,60, mas não sustentou a quebra do patamar. Na virada da manhã para a tarde, o câmbio mudou de mão e passou a subir. Na bolsa, o que chama a atenção é o volume de negócios: até as 13h, já haviam sido negociados R$ 12 bilhões, valor acima do movimentado em um dia inteiro de operações sem excepcionalidades.
– O que estava me surpreendendo era a abertura (a bolsa chegou a encostar na máxima histórica, acima de 88 mil pontos). A realização é saudável, o mercado normalmente faz isso, sobe na expectativa e baixa no fato – avalia Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.
"Realização", no mercado financeiro, ocorre quando investidores e especuladores transformam ganhos virtuais acumulados em lucros reais. Vendem ações que subiram e embolsam os ganhos do período. Geralmente, isso ocorre quando há mais entrada de novos compradores no pregão. Um dos motivos da cautela, acentua Espírito Santo, é a percepção de mudança (para pior) no cenário internacional, da qual ainda "não se sabe o tamanho".
A virada no mercado afetou também o chamado "kit eleições": os papéis da Eletrobras, que chegaram a saltar dois dígitos em um dia durante o "rali Bolsonaro", caem 1,59%, e os da Petrobras recuam 1,38%. Os do Banco do Brasil se mantêm em alta, mas com menor vigor. Depois de subirem mais de 4%, estão avançando 2,5% no início da tarde desta segunda-feira (29).
Como analistas já previam, o efeito da vitória de Bolsonaro já estava quase totalmente "precificado", quer dizer, embutido no preço dos ativos. A partir de agora, o que investidores e especuladores vão cobrar serão sinais e anúncios de medidas do presidente eleito e de seu entorno. Como a campanha de Bolsonaro se caracterizou por declarações contraditórias, afirmações seguidas de desmentidos e propostas pouco detalhadas, há muita expectativa por definições e, especialmente, esclarecimento de ambiguidades.
– Até agora, o mercado vinha tateando. Aconteceu o evento (a eleição de Bolsonaro). Agora, terá de mostrar qual é a equipe, se o comando do Banco Central será mesmo mantido, se o responsável pelo Tesouro Nacional será alguém comprometido em fechar o caixa, quais os ministérios serão cortados – detalha o economista.