Boa parte da agitação vista no mercado de telefonia celular tem um gaúcho na origem: depois de 16 anos na Vivo, Paulo César Teixeira saiu da empresa, passou dois anos cumprindo cláusula de não concorrência e, em abril de 2017, tornou-se CEO da Claro, com a meta de buscar a liderança do mercado.
Para isso, a empresa investiu R$ 8,8 bilhões só neste ano em ampliação da rede. E adotou pacotes, como chamadas ilimitadas e franquia para uso no Exterior, que mudaram hábitos dos clientes. Teixeira foi convidado do Fórum Respostas Capitais nesta terça-feira na sede da RBS. Para atender melhor ao Interior, propôs às concorrentes compartilhar estruturas. O plano está avançando, afirmou.
Sua saída da Vivo foi surpreendente. O senhor imaginava que voltaria para disputar mercado?
Tive mais de 16 anos na Vivo, trabalhei antes no sistema Telebras e CRT. São 36 anos, embora não pareça. Foi uma experiência bastante interessante, saí logo após a compra da GVT, foi uma decisão natural do grupo que achou que deveria apostar em um executivo mais ligado ao mundo do fixo, eu vinha do mundo móvel. Passado um ano, o Grupo Claro me ligou perguntando se queria voltar e tinha disponibilidade. Disse que poderia voltar dali a um ano e ele responderam "ok, a gente espera um ano por você". Foi supergratificante, quem vive essa adrenalina do dia a dia da indústria, sabe que é difícil se afastar dela.
Por que isso é menos frequente no Brasil, em relação a países com economia mais madura?
Diria que as empresas, muitas vezes, têm sucessores dentro da própria empresa. No caso do Grupo Claro, entenderam que deveriam buscar um de fora, com experiência, que tivesse passado pela concorrência e tido algum destaque.
A primeira coisa que o senhor disse quando assumiu foi que partiria em busca da liderança. Em que ponto a Claro está nesse objetivo?
Primeiro, tem de mobilizar as tropas, ou seja, levantar o ânimo da equipe. Naquele momento, a Claro era a terceira operadora, como operadora móvel. Quando cheguei, estávamos indo para um novo edifício em São Paulo, com Net, Embratel, todo mundo junto. Então, me chamaram para falar algumas palavras e disse: "só vim aqui por um motivo: ser líder desse segmento". A partir daí, começamos a construir uma trajetória. Hoje, nós somos a segunda operadora em participação de mercado e a que mais cresce em receita no Brasil nos últimos quatro trimestres, sendo que nos dois últimos avançamos duplo dígito. O binômio inovação e qualidade é com o que sempre trabalho. Da parte de inovação, lançamos o passaporte América, que era uma receita que a gente tinha perdido. Todo mundo que viajava, comprava um chip no local de destino ou usava o wi-fi. Fizemos dentro do próprio grupo acordos com os EUA, Canadá e agora Europa, para a Copa da Mundo, e liberamos o tráfego, ou seja, ele está dentro do seu plano, alguns planos pagam um pouquinho mais, os mais altos não paga nada. Você usa como se estivesse no Brasil.
Voz não é mais importante nas empresas de telefonia, é isso?
O peso hoje está em dados, todo mundo quer consumir dados. Temos dois indicadores que traduzem isso. Um é o MOU (minutes of use), quanto você gasta em média por mês para falar. E o outro é o MBOU (megabyte of use), quanto você consome em dados. O de voz está estável. Quando olha dados, estamos crescendo 100%, ou seja, em 12 meses dobrou o consumo unitário. O consumo total na Claro do 4G teve aumento de 250% em um ano. É algo que avança exponencialmente, tem de ter muita rede para suportar essa expansão. É realmente uma mudança de hábito de consumo, a voz deixou de ser relevante como era no passado e os dados passaram a ser dominantes.
A Claro, e as operadoras como um todo, estão com as redes dimensionadas para atender ao mercado do Brasil com qualidade e confiabilidade?
A Claro está dimensionada. Quando cheguei na empresa, havia um projeto, que era para ser realizado em cinco anos, para se comprar uma nova eletrônica e se retirar o 2G, 3G e 4G de primeira geração. Resolvemos, por uma negociação interna, acelerar e fazer em três anos. Na verdade, estamos fazendo 80% disso em dois anos. Vai sobrar 20% para o próximo ano. Pegamos toda a eletrônica que existia no site, que são as antenas, a Claro tem 20 mil antenas no Brasil. Retiramos o equipamento antigo e colocamos uma única eletrônica, ocupando muito menos espaço, consumindo 40% menos de energia, manutenção à distância. O que chamamos de 4.5G, o que efetivamente só a Claro tem. A nossa performance comparativa, e ganhamos o prêmio do Speedtest recentemente, é superior realmente pelo esforço que fizemos. Outro aspecto também que tomamos cuidado é de que você não pode fazer oferta do que não entrega. Esse é um cuidado que sempre temos.
O que o 4.5G entrega a mais que o 4G?
Muito mais velocidade. As tecnologias, a partir do 2G, que foi quando começou a ser usado os dados, a tecnologia era voz basicamente e SMS. A partir daí, 3G e 4G, vieram trazendo velocidade. O 4G tem três versões, a primeira que é LTE, a segunda LTE Advanced e, agora, o LTE Advanced Pro. Com o 5G isso muda: além da velocidade, a eficiência aumenta muito, se fala em 20 vezes o que temos hoje com o 4G. E outros atributos, como o tempo de resposta. Um mundo novo se abre a partir daí. Estamos em um centro de tecnologia de referência da Claro, no Rio de Janeiro, com a Anatel e as outras operadoras, desenvolvendo os filtros necessários para isso. Vai ser feito um leilão, possivelmente no final do próximo ano ou no começo de 2020, para depois começar a ter a possibilidade de uso. Vai ser em 2020 ou 2021.
As operadoras pediram aos dois candidatos uma atualização de lei geral de comunicações no Brasil. Quais os pontos?
Na móvel, o maior desafio está na questão das antenas. O Brasil tem em torno de 80 mil antenas, isso a Espanha e a Itália têm e são países de dimensões muito menores. A China tem cerca de 1,8 milhão. Você não faz telefonia celular sem antena. A legislação passa por município, têm mais de 200 leis no Brasil. Nos Estados Unidos, a Anatel deles vai regular esse tema. Vai ser necessário uma antena por quadra, caso contrário, não vai funcionar. A tecnologia vai exigir isso.
O maior problema das antenas ainda são restrições relacionadas à saúde?
Isso já foi entendido que não problema. Somos humanos iguais a qualquer outro lugar do mundo que usa antena em larga escala. Não há comprovação prática que isso cause algum dano à saúde. Tem de diminuir a burocracia. A gente até começou a premiar alguns municípios, mostrando aos demais que é bom ter uma economia mais dinâmica, um serviço mais adequado, para esse segmento tão importante na vida das pessoas.
Os municípios do interior do Estado têm demanda por conexão e sinal. Isso está no radar da Claro?
Esse é um grande desafio para o setor como um todo. Os mercados menores são desafiadores, porque o retorno do investimento é menor. Estamos propondo é que redes, abaixo de 30k, sejam abertas, ou seja, coloco a minha rede e abro para todos os outros utilizarem e vice-versa. Isso estimula que você consiga colocar novas coberturas. Se a gente tiver a rede aberta, poderemos cobrir maiores regiões. É um processo que está em andamento, conseguimos acordo com uma das operadoras. Isso está andando bem.
Como está a disponibilidade da Claro no Interior?
Estamos passando por um processo de modernização da rede e adicionando antenas. Em 18 meses, foram 3 mil. Até o final do ano, serão 4 mil, e no ano que vem, 2 mil. Isso entra no plano de ter maior cobertura. A nossa, em relação aos concorrentes, está muito similar. Há regiões que a gente entrega muito cobertura. Diria que somos o grupo que mais investe em rede hoje. Estamos investindo R$ 8,8 bilhões ao ano em infraestrutura de rede. Tem de colocar antena, nas rodovias é mais simples de fazer, mas tem de ter meio de transmissão. Temos uma boa rede de fibra óptica, que permite fazer aberturas nas rodovias, só que é um investimento de retorno mais lento. Então, é natural que faça de maneira compartilhada, e é nesse caminho que estamos seguindo.
Na confusão do horário de verão, as operadoras foram parte do problema?
Houve dois episódios. O da semana passada, uma operadora teve um problema de programação, não foi a Claro, felizmente. Nesse último fim de semana, o que aconteceu foi que alguns telefones com aplicativos baixados interagiram para trocar de horário. Isso é inevitável, não é controle da operadora. Foi um aplicativo do próprio Android que fez a atualização.
Sobre o investimento de R$ 8,8 bilhões, em 2019, esse investimento é mantido em qualquer cenário ou cresce?
Não posso formalizar isso ainda, mas a intenção do grupo é manter forte o investimento no Brasil. Dada principalmente a perspectiva que se tem sobre o país. A ideia de investimento alto que se teve há um ano e meio se deve porque se viu que a curva de queda já tinha atingido seu ponto mais baixo e que, a partir dali, haveria recuperação, e isso vem ocorrendo. O que se espera agora é que ela acelere. Independentemente do governo que venha, a expectativa é positiva.
*Com Anderson Mello