Depois que ficou claro o tamanho do risco embutido nas altas apostas do mercado financeiro no candidato que lidera as pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), o comando da campanha agiu. O dólar subia e a bolsa caía, quando o jornal Valor Econômico publicou o que seria um rascunho das medidas econômicas de Bolsonaro. Não por acaso, soaram como música: ajuste fiscal, corte de despesas incluídas no orçamento do governo Temer para 2019, como a troca do auxílio-moradia do Judiciário por aumento salaria de 16,38%.
Além do corte de gastos, estão previstas a aceleração das privatizações, venda de imóveis do governo federal, dar velocidade à reforma da Previdência e a formalização da autonomia do Banco Central. Seriam apresentadas formalmente ainda neste mês, depois do primeiro turno. As causas do avanço do dólar e da queda na bolsa, ontem, não estavam relacionada ao cenário eleitoral. Apesar do discurso tranquilizador do banco central dos Estados Unidos de que a alta no juro básico será gradual, o rendimento dos títulos do Tesouro americano com prazo de 10 anos, os chamados T-10, chegaram a 3,2% ontem. Na maior parte da última década, desde a crise de 2008, essa taxa oscilava entre 1% e 2%. A alta faz investidores que aceitam correr riscos em países emergentes, em troca de maior remuneração, voltar para os Treasuries.
Também surgiram advertências como a de Paulo Leme, ex-diretor da Goldman Sachs no Brasil, de que o mercado estava “grosseiramente subestimando os riscos futuros” relacionados ao candidato do PSL.
– A gente não sabe nada sobre Bolsonaro, sobretudo no que se trata de assuntos econômicos – reforçou André Perfeito, economista-chefe da corretora Spinelli, que se destacou por advertir que o ex-preferido do mercado, Geraldo Alckmin (PSDB), poderia não decolar.
Além de o candidato não fazer campanha, seu guru econômico, Paulo Guedes, sumiu da campanha desde o episódio da CPMF. Vai ao banco Bozano, Simonsen, do qual é sócio, reúne-se com a equipe de campanha, mas tem interagido pouco até com os pares. “Deu uma sumida da Faria Lima”, diz um dos que circulam na avenida de São Paulo onde estão grande parte das sedes das instituições financeiras do país. No fim do dia, dólar (alta de 0,2%) e bolsa (baixa de 0,38%)oscilaram suavemente. Analistas atribuíram ao aceno da campanha do PSL.