Se havia um consenso, depois da greve dos caminhoneiros, era de que o Brasil não suportava reajustes diários do preço dos combustíveis. Mesmo defensores históricos de um comportamento alinhado ao mercado admitiram o erro dessa estratégia. O anúncio de que agora poderá haver um período de 15 dias sem mudanças nos valores, tomada logo depois que boatos sobre uma nova eventual greve no transporte de cargas, tem um objetivo óbvio: acalmar ânimos e retirar argumentos de apoio a uma temida nova paralisação, depois do anúncio de aumento de 13% no diesel.
O anúncio de criação do mecanismo de hedge é mais uma satisfação ao mercado financeiro, que cobra da estatal medidas que protejam seu caixa. Não por acaso, depois do anúncio as ações sobem 0,9%. É pouco, mas sem uma explicação coerente de como compensar a flutuação de custos, haveria desaprovação e, consequentemente, baixa no valor dos papéis.
Quando implementou a medida, em julho de 2017, a Petrobras se inspirou no sistema que vigora nos Estados Unidos. Por lá, cada variação no custo do petróleo é repassada imediatamente para o preço nas refinarias e chega rapidamente às bombas. Há duas diferenças fundamentais: aqui, a flutuação ainda embute a variação cambial, forte nos últimos meses, e ao contrário da estabilidade duradoura nos preços americanos, o Brasil ainda é marcado por um passado recente de descontrole inflacionário.
Ainda foi adotada em um momento de alta na cotação internacional do petróleo, o que agravou a percepção de excesso de repasse, e em meio a um processo de retomada mais lenta do que a esperada, com desemprego alto, salários baixos e falta generalizada de crédito. Os sucessivos aumentos foram um dos motivos do surpreendente apoio da população à greve nos transportes de maio. A Petrobras ainda tem um desafio pela frente: caso seja aprovado na fase de audiências públicas, a estatal terá de abrir a caixa-preta de seu método de formação de preço. O brasileiro médio pode não entender, mas a empresa terá muito a explicar.